Talvez te roube os sentidos
Perceberás outro mundo
Não ouvirás os gemidos
Meus atos serão temidos
Agindo a cada segundo
Talvez eu traga uma taça
Contendo um pouco de dor
Mas saiba que logo passa
Qual neblina ou fumaça
Com a sua própria cor
Talvez te leve com calma
Na palma da minha mão
Se hoje te vejo alma
Sairás sem esse trauma
Do corpo que foi prisão
Negar a minha existência
É também negar a vida
Efeitos da Providência
Sentirás tal sonolência
Na chegada e na partida
Teu sono deve dizer
Ensaios de cada dia
Só pensar te faz sofrer
Ponho medo em teu viver
Percebo tua agonia
Talvez o tempo não passe
Tu não passarás do tempo
Talvez você me abrace
Outra cor em tua face
E verás meu passatempo
Eu existo, existo sim
E me verás bem de perto
Verás que não sou o fim
E Deus ordenando a mim
Voltarás a teu deserto
Talvez entendas errado
A divisa onde estou
Te levarei com cuidado
Há vida do outro lado
Onde trabalhar não vou
Talvez tu ouças falar
Que tenho muito poder
Engano de quem pensar
Teu corpo posso matar
O espírito não vai morrer
Talvez te chegue a sorrir
Sou apenas o transporte
Talvez não queiras partir
Comigo terás que vir
Não temas eu sou a morte.