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Sobre a brevidade da vida

05 de Abril de 2019 às 18h10

Até bem pouco tempo, estávamos todos nos despedindo de mais um ano velho e, seguindo uma tradição que se repete sempre, dávamos boas vindas a mais um ano novo depositando nele, nossas esperanças e anseios em torno de um tempo novo, próspero e repleto de alegrias, de felicidade não só para nós mesmos e para os nossos, mas para a nossa nação como um todo que, como temos testemunhado atravessa um dos mais turbulentos momentos de sua história. E eis que 2019 chega e, diferentemente do que tanto ansiávamos, pelo menos no plano coletivo, social e que, como sabemos é imprescindível para o nosso bem estar também individual, fomos pegos de surpresa por uma onda devastadora de acontecimentos de natureza trágica ocorridos até aqui e que tem chocado a todos, ou pelo menos aqueles que já se encontram no estado evolutivo de se sensibilizarem com a dor dos outros, cientes de que a dor desses, de algum modo também é nossa, sobretudo, quando se trata de um mesmo povo, uma mesma nação.

Os diversos casos de desencarnes coletivos que testemunhamos até aqui, do episódio de Brumadinho à chacina da escola em Suzano, nos levam a refletir acerca de dois traços marcantes na experiência de vida aqui neste mundo efêmero que são a imprevisibilidade e aquilo que se convencionou chamar de brevidade da vida. De fato, nenhum de nós seres humanos tem a ciência do que está programado para nos acontecer não apenas em cada ano novo que se inicia, mas em cada novo dia em que abrimos os olhos ao acordar. Do mesmo modo que não fazemos a mínima ideia do tempo de vida que nos resta por aqui, que poderá ser de algumas décadas, anos, meses, dias ou até mesmo horas, instantes. E é interessante observar que, mesmo cientes dessa verdade, a grande maioria das pessoas continua vivendo como se nunca fosse morrer e o pior ainda, morre como se nunca houvesse vivido, algo profundamente triste e lamentável.

Há uma frase atribuída a Mahatma Gandhi que diz: “Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre”. Eis aqui uma sábia orientação que, se talvez fosse devidamente assimilada e vivenciada por todos, certamente nos ajudaria muito a mudarmos o rumo da história de nossas vidas, detendo-nos no propósito maior que é o de vivermos da maneira mais plena possível. Desfrutarmos de uma existência que nos indique a vida que realmente vale a pena ser vivida, evitando desta maneira, uma experiência reencarnatória esvaziada de sentido. Que nos leve simplesmente a existirmos. E há diferença enorme entre viver e simplesmente existir. Oscar Wilde disse certa vez que “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existem”. Eis uma triste realidade que basta um olhar ao nosso redor para constarmos. Não são poucas as pessoas que em sua maioria levam suas vidas só ocupadas em nascer e morrer. As ditas pessoas da “sala de jantar”, como nos faz ver uma das mais belas canções da Tropicália e que se tornou bastante conhecida por meio da voz de Marisa Monte: Panis et Circenses. Indivíduos que se deixam dominar pelo status quo, apegadas a valores fúteis e efêmeros,cada vez mais comum nessa sociedade líquida em que vivemos.

Em seu livro “Sobre a brevidade da vida”, o filósofo Sêneca nos revela uma importante contribuição ao nos afirmar categoricamente que ao contrário do próprio título da obra, a vida não tem nada de breve. “Pequena é a parte da vida que vivemos. Na outra grande parte, nós simplesmente existimos”. Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem vivida, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas”, diz-nos o pensador do Estoicismo. Contudo, ele esqueceu-se de dizer que a única coisa que faz a vida realmente valer apena é o amor (desculpe-me aqui pela ‘coisa’). Só uma existência vivida com amor, por amor, é capaz de nos afastar de uma vida medíocre, sem sentido. Isso porque o amor é o que há de mais pleno na vida, no universo e, portanto, nos faz sentirmos plenos. Como já foi dito pelo evangelista Paulo e que contemporaneamente se transformou num poema cantarolado: “é só o amor que conhece o que é verdade!”. Sentimento que, como assevera o Espiritismo “resume toda a doutrina de Jesus porque é o sentimento por excelência” (Espírito de Pascal em O Evangelho Segundo o Espiritismo), o amor é tudo do que necessitamos para fazer cada dia de nossas vidas se encherem não apenas de alegria, mas de sentido e graça. Que possamos, portanto, acrescentar em nosso dia a dia, um pouco que seja de dosagem deste sentimento sublime para assim, podermos sentir a vida em toda a sua plenitude batendo em nossos corações, correndo não apenas em nossas veias, mas em nossas almas!