Avaliando o nível de adiantamento moral de nós mesmos e dos demais a nossa volta, no atual estágio em que o mundo se encontra, chegamos a uma impressão não muito animadora. A sucessão de crises de várias naturezas (social, política, econômica e, sobretudo, moralítica) que testemunhamos por toda parte, coloca em dúvida a lei do progresso da humanidade que parece permanecer em ampla expansão unicamente no campo do desenvolvimento da vida material e, especialmente, no que diz respeito ao avanço do conhecimento e benefícios tecnológicos. Mais recentemente, o clima de hostilidade caracterizado, sobretudo, pelas manifestações de intolerância e de desrespeito que, vale dizer, tem sido testemunhado não apenas entre os indivíduos mas desses para com o meio ambiente, parece corroborar com essa visão preocupante em relação ao futuro que nos aguarda.
Dentro desse panorama, na qualidade de profitentes do Espiritismo, doutrina esta que se propõe a atuar como uma das alavancas promissoras do progresso moral da humanidade, ficamos a nos indagar sobre o que afinal de contas tem sido feito dos ensinos transmitidos pela plêiade de espíritos superiores que se uniram para fazerem chegar até nós um dos mais valiosos recursos de transcendência e melhoramento humano e espiritual. Indagação esta que, francamente falando, encontra sustentação quando avaliamos de maneira restrita, o nível de transformação, de melhoramento daqueles que compõem a denominada comunidade espiritista. Quando avaliamos a qualidade moralítica de nós mesmos e da grande maioria daqueles com quem convivemos nos redutos espíritas, seja nas casas espíritas, nas entidades representantivas ou dentro do denominado Movimento Espírita, de modo geral. Algo que, vale dizer, certamente, não é uma particularidade dos espíritas, mas de todos os demais engajados nas correntes religiosas de origem cristã cujo ensinamento maior e comum a todas elas está na proposta de aprendermos, enfim, a nos amarmos uns aos outros.
Na condição de seguidores da doutrina Espírita, cujo compêndio de ensinamentos revelados pela Espiritualidade Maior, abrange os mais diversos campos e paradigmas do conhecimento acerca da vida, o que inclusive, tem proporcionado uma diversidade de formas de abordagem e propagação de seus ensinamentos, é importante focarmos a nossa atenção de maneira mais intensa sobre o propósito maior do Espiritismo. E, nesse sentido, revendo as considerações apresentadas pelo codificador da doutrina dos Espíritos, Allan Kardec, chegamos à conclusão de que, a despeito do amplo e rico aporte de conhecimento plural revelado pelos instrutores espiritualistas, o mais importante de tudo está nas lições de aspecto moralítico e que contribuem para o melhoramento da alma humana individualmente e dos mundos em que essas habitam, especialmente, a Terra que é a nossa morada no plano material.
Dentro dessa premissa, o conteúdo trabalhado particularmente no Evangelho Segundo o Espiritismo e, para além dessa, embora de maneira menos intensa, nas demais obras trabalhadas por Allan Kardec, se sobressai, fazendo-nos ver que o Espiritismo terá se consolidado na Terra quando os homens conseguirem, por fim, estabelecer entre si, o reino da caridade e da solidariedade anunciado por Jesus. Fazendo-nos ver, em síntese, que aquilo que Moisés lavrou, Jesus semeou, o Espiritismo vem colher.
E, de maneira ainda mais objetiva, parece-nos ficar também claro que, isso só será possível quando os homens esforçarem-se o suficiente para combater de maneira eficiente e efetivamente esses que são a origem de todo o mal que habita na alma humana: o orgulho e o egoísmo. Lendo o livreto “O Espiritismo na sua expressão mais simples”, uma das obras complementares lançadas por Allan Kardec que, como todo grande visionário, parecia já prever o desvio de atenção dos homens acerca da essência da doutrina Espírita, encontramos a seguinte assertiva acerca dessa questão: “ Os males que afligem os homens na Terra têm por causa o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens se tornam reciprocamente desgraçados e se punem uns aos outros. Se a caridade e a humildade substituírem o egoísmo e o orgulho, eles não mais buscarão prejudicar-se mutuamente. Respeitarão os direitos de cada um e farão que reinem entre si a concórdia e a justiça” (p. 23).
Portanto, havemos de nos questionar: pelo que estamos esperando ainda? O que nos falta para, enfim, vivenciarmos na prática, no nosso dia-a-dia, aquilo que os Espíritos Superiores, sob o comando de Deus, vieram nos revelar para a nossa própria salvação e para o bem estar ainda aqui neste mundo? A resposta para essa questão crucial a todo aquele que realmente deseja se comprometer com o seu adiantamento moral e sua contribuição para a dissolução do atual cenário caótico em que nos encontramos, que consolida o período de transição planetária, parece estar na questão 909 de O Livro dos Espíritos, em que é feita a seguinte pergunta: Poderia sempre o homem, pelos seus esforços, vencer as suas más inclinações? Resposta: “Sim, e, freqüentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é a vontade. Ah! Quão poucos dentre vós fazem esforços!” Reflitamos, esforcemo-nos e progridamos. Essa é uma questão urgente!