Na condição de doutrina filosófica espiritualista e que, portanto, nos leva a reflexões profundas acerca da nossa própria natureza moral e espiritual, o Espiritismo se apresenta como um roteiro moralítico extraordinário a medida que nos apresenta uma proposta de auto-conhecimento que nenhuma outra corrente religiosa ocidental oferece. Com todo o respeito às demais religiões denominadas cristãs, a Doutrina Espírita é aquela que melhor traduz a moral evangélico-cristã, moral esta que, como está escrito no próprio evangelho segundo o espiritismo, deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos. E, nesse sentido, diferentemente das demais correntes religiosas, o espiritismo não apregoa como roteiro infalível para tal, a conversão de todos a uma única religião, uma única fé, e sim, o esforço individual que cada um de nós deve empregar para a sua transformação moral, tendo jesus, como o mais bem sucedido exemplo a ser seguido.
Nesse sentido, conhecermos as nossas inferioridades morais, este sim, passa a ser o primeiro e mais importante passo para a nossa elevação espiritual. Dentro dessa concepção, a doutrina espírita nos chama a atenção para aquele que é o maior de todos os defeitos morais do homem e sobre o qual devemos todos concentrarmos os nossos esforços afim de, aos poucos, dizimá-lo. Trata-se do orgulho, a maior chaga moral da humanidade e que tem no egoísmo, a sua manifestação mais nefasta e que tanto compromete o progresso individual e coletivo das sociedades humanas. Um mal que se vê manifestar-se por toda a parte, em menor ou em maior grau, ameaçando a paz e a harmonia tão almejada por todos.
Ciente da necessidade mais que urgente de se combater esses dois inimigos vorazes e, de modo especial, o egoísmo, tentáculo perverso do orgulho humano, a doutrina espírita conclama a todos para uma batalha firme contra esses algozes íntimos a fim de, efetivamente, iniciarmos um novo tempo na humanidade. Nesse sentido, uma das mensagens mais explícitas que nos vem por meio dos instrutores espirituais a nos fazer ver a necessidade urgente de tal combate é aquela contida no capítulo XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, a nos dizer:
“O egoísmo, esta chaga da humanidade, deve desaparecer da terra, porque impede o seu progresso moral. É ao espiritismo que cabe a tarefa de fazê-la elevar-se na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, portanto, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem. Digo coragem, porque esta é a qualidade mais necessária para vencer-se a si mesmo do que para vencer aos outros. Que cada qual, portanto, dedique toda a sua atenção em combatê-lo em si próprio, pois esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a fonte de todas as misérias terrenas. Ele é a negação da caridade, e por isso mesmo, o maior obstáculo à felicidade dos homens [...]”.
Eis aqui, portanto, o roteiro e a receita infalível para que alcancemos a tão almejada felicidade e que a grande maioria esmagadora da humanidade permanece procurando onde esta não se encontra. Quase sempre, na realização de desejos e caprichos pessoais, de natureza egóica. Por essa razão, o mais eficiente antídoto contra esse mal avassalador é a humildade. A prática da “humildação”, como nos orientou aquele que foi o maior nome do yoga no Brasil, o saudoso professor Hérmogenes. É dele a sábia orientação a nos dizer que: "O egoísta ri quando seus apegos e desejos são satisfeitos e, na mesma medida, se deixa abater com o que não gosta. Atrás de tudo há um ego querendo poder, prazer e status. O resultado é uma desgraceira geral. Só podemos vencer essa doença por meio da 'humildação'. Quando nos humildamos, reduzimos o ego e ficamos mais pertinhos uns dos outros”.
Por fim, como nos é advertido por Kardec no livro a Gênese: “Enquanto o homem estiver dominado pelo orgulho e o egoísmo, ele utilizará sua inteligência e seus conhecimentos em proveito de suas paixões e de seus interesses pessoais”. E, desta maneira, continuará preso ao ciclo repetitivo de todos os tipos de infelicidades, sofrimentos e aflições que permanecem atormentando o homem por toda a parte. Pensemos nisto e reforcemos o nosso combate a esses dois inimigos ferozes em prol de nós mesmos e também de todos os demais à nossa volta, cientes de que o mundo só será efetivamente bom quando todos estiverem voltados à prática do bem comum.