Os dias atuais parecem tomar como verdades inquestionáveis as sábias palavras contidas no livro de Eclesiastes, ao nos fazerem ver que de fato, há um tempo para tudo debaixo do céu. Dentro dessa lógica irredutível, diz-nos o sábio que, dentre tantos outros, há um tempo de amar e um tempo de odiar. E, observando atentamente o tempo presente não nos resta dúvida de que esse segundo momento chegou e, por mais amor que ainda exista pelos quatro cantos deste país e orbe, a taça da cólera que os seres desumanos seguravam a espera do dia que brindariam entre si, encheu e transbordou fazendo jorrar a estupidez e a sombra da maldade por toda a parte.
E assim, passamos a viver dias sombrios, tenebrosos, mergulhados num clima denso em que a insensibilidade, a intolerância e todas as formas de desamor parecem ter sido legitimados e liberados para uma experiência em massa. Um período em que as mentiras sufocaram as verdades e se fizeram mais convincentes, mais fáceis de serem aceitas driblando e escanteando a força da obviedade e nocauteando o velho e sempre raro bom senso. Esta virtude sublime que só encontra espaço em consciências permanentes atentas e abertas ao que é verdadeiro e bom.
Diante de todo esse cenário desolador e que, por vezes, tenta nos roubar aquilo de mais precioso que devemos manter a sete chaves em nós em circunstâncias difíceis que é a esperança, só nos resta acreditar piamente no que nos apregoa a filosofia de Eclesiastes ao afirmar que para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito aqui na Terra. E, desta maneira, mesmo que não compreendamos de imediato o propósito por detrás de tudo o que temos visto e vivenciado, conseguirmos esperar do verbo esperançar por uma mudança de tempo em que sejamos também os protagonistas dessa mudança e no qual possamos voltar a sorrir, nos alegrar e, acima de tudo, a compartilharmos de conquistas boas para todos, e não apenas para alguns.
Cientes de que o mal pode até triunfar por um tempo, mas jamais vencerá para sempre! Até lá, particularmente, continuarei me agarrando à máxima kardequiana a nos dizer que “As vezes é necessário que o mal chegue ao excesso, para se tornar compreensível, a necessidade do bem e das reformas”.