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Espiritismo, pandemia e transformação social

15 de Maio de 2020 às 13h00

As diversas e distintas das mais lúcidas análises reflexivas feitas até o momento acerca do advento da pandemia de Covid-19 parecem convergir para uma mesma e importante conclusão. Tais análises corroboram com o ponto de vista de que, para além de uma experiência dolorosa, desconcertante e desafiadora, o aparecimento e propagação do novo coronavírus em escala global tem como propósito maior, contribuir com a transformação social de que, por sua vez, nos fala o Espiritismo ao abordar o fenômeno do progresso da humanidade.

Não resta dúvida de que, não só do ponto de vista espiritual, mas sob vários outros aspectos, como, por exemplo, do ponto de vista político, econômico e, sobretudo, social, o mundo vem apresentando, há tempos, claros sinais de saturação. A nos fazer ver que não dá mais para continuarmos vivendo, convivendo, nos relacionando uns com os outros e com o planeta Terra, nosso habitat sagrado, do modo degradante, desrespeitoso e destruidor como viemos até aqui. Olhando por esse prisma, a experiência coletiva do momento atual nos faz ver que é preciso antes mesmo de nos espiritualizarmos, buscar nos humanizarmos mais. E isso, é importante destacar, ultrapassa o universo da crença religiosa que, como temos visto até aqui, parece não ter sido suficiente para tornar os espíritos aqui encarnados em seres humanos melhores. E, um dos motivos disto, tem sido, sem sombra de dúvidas, a falta de ênfase dada à dimensão social da alma humana aqui destacada e que é de vital importância para o processo de transformação e progresso moral da humanidade.

Só mesmo quando todos os seres humanos atingirem o nível de consciência coletiva, assumindo para si, as responsabilidades enquanto sujeitos dependentes uns dos outros, e responsáveis por manter em ordem a vida aqui neste plano físico é que começaremos a consolidar o novo tempo tão badalado e aguardado por todos e que tem sido a tônica das diversas análises feitas em torno da pandemia em curso.

E, nesse sentido, não podemos perder de vista em nenhum instante, o fato de que, para muito além de uma crise de natureza sanitária, econômica e de saúde pública como vem sendo bastante enfatizada até aqui, a pandemia que assola o mundo e que, de um lado paralisa as sociedades, mas de outro mobiliza inúmeras pessoas ao redor do mundo inteiro em ações solidárias extraordiárias, representa um forte apelo dirigido à nossa consciência social e espiritual, conclamando todos à investirem na disseminação da solidariedade social. Algo que, é importante destacar, é também abordado pelo espiritismo que, na qualidade de doutrina holística que aborda a alma humana em todas as suas dimensões, foca sua atenção não apenas nos aspectos metafísicos, mas também nos aspectos de ordem social, conforme, inclusive, está posto explicitamente na introdução de O Livro dos Espíritos. É nesta obra que, vale salientar, Kardec dedicou um capítulo específico voltado às questões do espírito enquanto ser encarnado e, portanto, de natureza social, chamando-nos a atenção para a valiosa e imprescindível experiência da vida em sociedade.

Referimo-nos aqui ao cap. 7, “Da lei de sociedade”, contido na Terceira Parte de O L.E, que, por sua vez, versa sobre aquilo de mais importante para todos nós que são as leis morais. E o primeiro dos três tópicos desse capítulo, nos fala sobre “A necessidade da vida social”, destacando que Deus fez o homem para viver em sociedade e que é justamente por meio das relações sociais, na convivência harmônica com os outros, que o espírito não apenas desenvolve todas as suas habilidades humanas, como coloca em marcha o progresso individual e coletivo da humanidade.

Diz-nos a Espiritualidade Maior, no início do capítulo citado: “Homem nenhum possui faculdades completas. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados”. Essa máxima é aprofundada nos capítulos de “Lei do Progresso” e “Lei de Igualdade”, convidando-nos a refletirmos acerca da determinante dimensão social da alma humana que, é importante destacar, ainda é pouco refletida pela grande maioria dos espíritas e que, como vemos, se faz extremamente urgente.

Os tempos são chegados, alertam-nos os amigos do Mundo Maior a nos conclamar para que, não apenas reflitamos como vem sendo instigado até aqui, mas que assumamos efetivamente a condição de trabalhadores da última hora e, desta maneira, contribuamos com a marcha do progresso moral da humanidade. Marcha esta que, como acreditamos não haver dúvida alguma, encontra-se num momento crucial e determinante e que tem no flagelo destruidor em curso, a alavanca providencial de que Deus se vale, vez por outra, conforme está posto em O L.E (Cap. VI) e em A Gênese (cap. XXVIII), para acelerar o progresso moral da humanidade.

E, nesse sentido, não tenhamos dúvida alguma de que só vencendo em nós mesmos e erradicando do seio social esse que é o pior vício moral das sociedades, a indiferença moral e social, é que conseguiremos consolidar o processo de regeneração tão aguardado, mas para o qual, pouquíssimos tem contribuído efetivamente. Mal esse, oriundo da fonte de todas as misérias espirituais e sociais existentes, o egoísmo que, conforme nos é advertido no cap. XI do evangelho: “Cabem a vós, novos apóstolos da fé, que os Espíritos Superiores esclarecem, o encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho dos pedrouços que lhe embaraçam a marcha”. Portanto, não há dúvida de que, só depende de nós, enquanto indivíduos e enquanto seres sociais conscientes, a resposta para esse caos em que nos encontramos e do qual, a pandemia de Covid-19 se destaca como o mais nítido e contundente sinal de alerta e oportunidade crucial de mudança. A transformação social, moral e planetária de que tanto ansiamos e necessitamos!