O poeta, tradutor e escritor Mário Quintana se tornou ilustre não apenas pelos seus belíssimos poemas, mas também pela produção de frases carregadas de verdades inquestionáveis e que nos levam a filosofar sobre vários aspectos da vida. E numa delas, ele chegou a dizer o seguinte: ”Viver é simplesmente a arte de conviver....Simplesmente, disse eu?. ah, mas, como é difícil!”. Eis aqui uma verdade que, certamente, nenhum de nós há de contestar. Um dilema que se constitui no maior desafio de todos os dias de nossas vidas, por meio do qual, nossa condição moral, espiritual, emocional e humanitária é posta em prova. Já foi dito que reconhece-se um verdadeiro homem de bem, um ser efetivamente bem espiritualizado pelo modo com que esse convive com os seus semelhantes. Isto porque é através das mais diversas formas ou níveis de relacionamentos que nós revelamo-nos quem somos, demonstramos efetivamente, o padrão de conduta ética cristã que nos rege.
Se analisarmos bem, veremos que a raiz de todo o caos, desse mar de conflitos que a humanidade parece estar sempre mergulhada, e de maneira ainda mais particular, nos dias atuais, está justamente no péssimo e devastador padrão de relacionamentos que tem norteado as convivências em geral, sejam essas de natureza íntima, pessoal, interpessoal e social. Vivemos uma grave crise de relacionamentos que se caracteriza, sobretudo, pela ausência de delicadeza no ato da convivência. É como se estivéssemos perdendo a capacidade de interagirmos, de dialogarmos, de nos respeitarmo-nos, tolerarmo-nos e aceitarmo-nos mutuamente. E isso é algo extremamente preocupante, pois a qualidade da nossa existência, seja individual ou coletiva, do padrão da nossa saúde não apenas psicoemocional, mas também física e espiritual está atrelado direta e indiretamente à qualidade das convivências, dos relacionamentos que construímos ao longo de nossa experiência humana. E, como bem sabemos, a vida é constituída em grande parte a partir dos relacionamentos que vamos construindo no decorrer de nossa jornada.
E essa relação do bem estar integral com os padrões de convivências tem sido algo, inclusive, que já vem sendo constatado por estudos realizados no campo das ciências do comportamento humano como a psicologia e a sociologia. Dentre os resultados divulgados recentemente está um que apregoa que, diferentemente do que muitos ainda insistem em pensar, não é a condição econômico-financeira, ou o grau de beleza ou intelectualidade que garante uma vida emocionalmente estável, harmoniosa mas sim, o padrão de relacionamento que vivemos no nosso cotidiano. De acordo com o que aponta um desses estudos, o bom padrão de relacionamento é o critério número 1 para alcançarmos o tão almejado estado de felicidade, diga-se de passagem, relativo que temos direito neste mundo. Em outras palavras: as pessoas mais felizes são aquelas que conseguem se relacionar, conviver bem com as outras a sua volta.
E nem é preciso ir muito longe para atestarmos essa verdade. Basta ver o nosso estado psicoemocional, espiritual e até mesmo físico de quando estamos convivendo bem ou de forma desastrosa com as pessoas ao nosso redor, a começar por aqueles com quem lidamos intimamente, no seio familiar, que são os nossos mestres oportunos, ampliando para os demais ciclos de relacionamentos interpessoais. E tudo isso nos faz ver, portanto, o quanto precisamos voltar mais a atenção para esse quesito tão importante em nossas vidas que são os relacionamentos. Por essa razão, é de extrema importância que analisemos e avaliemos como anda o nosso padrão de relacionamentos, perguntando a nós mesmos como tem sido, via de regra, a nossa convivência diária com as pessoas a nossa volta. Mas também não devemos nos esquecer de também avaliar a nossa convivência íntima conosco mesmo. Um detalhe que faz toda a diferença, pois como bem sabemos é impossível convivermos bem com quem quer que seja se no nosso íntimo, nós vivemos num estado de permanência perturbação. Mas para além desses dois tipos de relacionamentos é importante não esquecermos que há um outro a que devemos também estar muito atentos e que de todos, é certamente o mais importante pois é partir dele que o processo de convivência irá fluir de modo geral, alcançando o estado estabilidade emocional e espiritual. Trata-se do relacionamento com Deus, esse ser supremo, absoluto, fonte inesgotável de perfeição que rege todo o universo, e com quem precisamos estar na mais perfeita harmonia afim de alcançarmos a paz que tanto almejamos.
Mas, como aprimorarmos o relacionamento com Deus de Quem ainda vivemos distantes?. Como sairmos da mentira de afirmarmos que amamos a Deus a Quem nunca vimos, se não aprendemos a amar àqueles que vemos frequentemente, como alias, nos chama a atenção o evangelista João?. A resposta para esse dilema não parece estar em outro lugar que não seja na obediência plena ao mandamento maior que consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Eis o caminho para nossa redenção e perfeito relacionamento com Deus e, consequentemente com o próximo e conosco mesmo. Conforme nos é dito por Jesus por meio do evangelho de João (14:21): “Aquele que guarda os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele”. Eis aqui, portanto, a forma de demonstração inquestionável de quem vive em comunhão com Deus e, assim sendo, é capaz de conviver bem com todos à sua volta e consigo mesmo. Algo de que o mundo necessita e com uma certa urgência!