Um dia frio assolava a alvorada silenciosa e cinza que chegara para todos. Um péssimo dia para as lágrimas caírem. Eu podia senti-las cristalizando a pele do meu rosto, enquanto cumpriam as leis naturais e escorriam.
Aquele frio estava em mim, com profunda tristeza. Às vezes não sabemos muito bem o que sentimos, mas quase sempre o vento trás, em prosa e verso, os ruídos de lamúria.
Acontece que as estações do ano não estão ajustadas como deveriam, e cada qual não cumpre mais suas qualidades com a perfeita expressão. Culpa de quem, eu pergunto? Acho que nossa em perpetuar dias de frio a lugares do nosso coração, os quais já deveria estar florescendo alegrias de primavera.
O inverno perturba as mais terríveis sombras que nos habitam, mas só podemos observá-las quando uma luz nos ilumina. As sombras são os pontos que ainda não receberam essa luz.
Mas ela chega vagarosa mesmo, quase que tímida. É preciso esforçar para se aproximar da luz, do calor e largar a comodidade sofrida do inverno. “Os tempos são chegados” anunciam todos, porém, eu olho e ainda vejo lamúrias e tormentas.
Ainda vejo as lágrimas de inverno caírem sobre rostos inocentes que, em seu estado espiritual, talvez só precisasse de um abraço. Quantas vezes você fez evangelho no dia de hoje e abraçou quem está em sofrimento?
Em devaneios lúdicos, pode ser que o frio também esteja em nós. Me pergunto o que fazer com ele, pois acredito que este inverno seja inevitável. A resposta sempre varia e quase sempre sua subjetividade a faz incorreto, mesmo que isto seja contraditório.
Acho que deveríamos chorar mais. Se há lágrimas, há pelo que chorar. Mas não seja egoísta e orgulhoso, vá pedir ajuda antes de sucumbir ao escuro e prolongar os invernos existentes em sua mente e coração.