Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não interessa! ...
Antes de tudo, é preciso ser de Deus!...1
Em nossa caminhada evolutiva nos deparamos com pessoas de todas as idades, se ocupando com as mais diversas atividades na seara espírita.
Muitos de nós ainda habituados a considerar a vida como este ato, onde encarnados, nos encontramos na primeira infância, adolescência, juventude, maturidade ou velhice, olvidamos que enquanto espíritos imortais, podemos ser milenares.
Por outro lado, ainda que milenares, se decidirmos por nosso livre arbítrio estagnar, nos manteremos, por maior tempo, na infância espiritual.
Ocorre que a evolução é uma certeza e com menor ou maior tempo e trabalho, todos estamos fadados ao sucesso, a pura e eterna felicidade, consoante se depreende da questão 115, de o Livro dos Espíritos.
Assim, estar encarnado e nesta vida ser cronologicamente idoso ou jovem, como ensinou Jesus a Simão Pedro, não importa, antes de tudo é preciso ser de Deus.
E sendo de Deus e nos reconhecendo enquanto seus filhos, começamos a sentir a sua presença amorosa em nossas vidas e a partilharmos esse amor com Seus demais descendentes, a parentela de irmãos, independentemente de suas idades.
Em uma família consanguínea, constituída de mais de um filho, é da biologia e da lógica que uns sejam mais velhos que os outros. Ao ampliarmos o conceito para a família universal, também é natural que tenhamos irmãos idosos e jovens.
Aos idosos somos convidados a respeitar e zelar, tanto por disposição da lei dos homens, como preconizado por nossa Constituição Federal e pelo Estatuto do Idoso, em sua amplitude protetiva, quanto pelas leis naturais e, portanto imutáveis, representada pela Lei Maior de Amor, Justiça e Caridade.
Aos jovens o convite da vida é similar, já que gozam de proteção legal pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e agora também do Estatuto da Juventude, e estão, como todos, sob o amparo das Leis de Deus, que não privilegia nenhum de seus filhos.
Como filhos do mesmo pai, todos criados simples e ignorantes, uns com maior caminhada e outros iniciantes, meditemos, quanto ao contributo de cada um de nós no trabalho de propagação do evangelho de Jesus, dentro da proposta da doutrina espírita, da promoção do espírito imortal.
Os que vieram primeiro, abrindo as trilhas, tiveram as mãos calejadas e o corpo cansado, na edificação do alicerce. Os que já encontraram a casa erguida são convidados a mantê-la em pé, trabalhando para que a base forte logre outros degraus.
Nenhum trabalho anterior ao nosso é desprezível ou insignificante. Os que vieram antes e que ainda estão entre nós, contribuíram e ainda contribuem, com o exemplo de dedicação, persistência, esforço e doação. Os que agora chegam, muito têm a aprender com eles e também a renovar e contribuir.
Como esclareceu Jesus a Simão Pedro: “poderíamos acaso perguntar a idade de Nosso Pai? E se fossemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas quem seria o mais velho de todos nós? A vida na sua expressão terrestre é como uma árvore grandiosa. A infância é uma ramagem verdejante. A mocidade se constitui de suas flores perfumadas e formosas. A velhice é fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do sol e flores que caem ao primeiro sopro da primavera. O fruto, porém, é sempre uma benção do Todo-Poderoso. A ramagem é uma esperança; a flor uma promessa; o fruto é a realização. Só Ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da Divindade!...” (Velhos e Moços, in: Boa Nova Humberto de Campos – Espírito - psicografia de Francisco Cândido Xavier. 36.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013, p.60).
Assim é que encontramos muitos jovens sábios realizando tarefas grandiosas na sedimentação de valores humanos e outros idosos apegados a doenças e queixosos da vida.
A idade, por si só, não determina padrões de comportamento e nem colheita fausta. Contudo, a oportunidade bem utilizada durante a nossa encarnação, nos oportuniza aprendizado e crescimento, seja por meio das experiências-desafio, seja por meio das experiências-estímulo, como nos ensina Honório (Práticas do Amor. Honório – Espírito - psicografia de Afro Stefanini II. Cuiabá: Espiritizar, 2012, p.130) .
E quando estivermos nos sentindo incapacitados para o trabalho, seja pela pouca idade ou pelo grande número de anos, inseguros por observações pouco caridosas de alguns irmãos de jornada, podemos nos socorrer de um axioma: ninguém tem o poder de criar nada em nosso mundo íntimo.
O outro pode despertar as matrizes egoicas que ainda existem em nós, mas como Espíritos Imortais temos o poder pessoal e único real, de transmutar nossas negatividades e torná-las nossas amigas evolutivas, contribuindo cada vez mais para o nosso progresso e dos que gravitam em torno de nós.
Como nos lembra Emmanuel, ao discorrer sobre o encontro de Paulo e Ananias “o apelo do Céu ao cooperativismo transborda da lição. Perseguidor e perseguido, reúnem-se no altar da fraternidade e do trabalho útil. O velhinho de Damasco presta socorro ao ex-rabino. Paulo, em troca, prodigaliza-lhe enorme alegria ao coração” (O Senhor mostrará, in: Vinha de Luz. Emmanuel – espírito – psicografia de Francisco Cândido Xavier. 26.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007, p.281).
O desenvolvimento das virtudes latentes em nós, sobretudo a da irmã humildade, proporcionará a valorização do trabalho dos que nos precederam e dos que nos sucederem. A humildade nos convida a acompanhar a Majestade Solar que nos ensinou, por seus exemplos, que não vinha ao mundo para ser servido, mas para servir (O cântico das virtudes. Adália – Espírito – psicografia de Afro Stefanini II. Cuiabá: Espiritizar, 2013, p. 105/107).
Dentro da missão confiada a cada um, de desenvolver as virtudes latentes em si, lembremos, portanto, de fazer a parte do esforço que nos compete, para edificação do Reino de Deus dentro de nós, com a certeza de que estamos amparados pelo Pai, guiados por Jesus, tutelados por nossos anjos de guarda e orientados por incontáveis benfeitores espirituais, que se associam a nós pelas doces emanações do pensamento.
E assim, ao juntarmos as duas energias criativas, dos jovens e dos idosos, ambos bem resolvidos e cônscios de suas responsabilidades, teremos o equilíbrio, advindo da união que o amor proporciona.
[1] Boa Nova. Humberto de Campos (Espírito) pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. 36.ed.Rio de Janeiro:FEB, 2013, p.60 - Velhos e Moços.