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Os obreiros do Senhor devem ser simples e puros

11 de Março de 2017 às 06h55

Sou de uma família onde a grande maioria são professores, diretores e/ou donos de escolas privadas. A família é a primeira referência de qualquer pessoa e é reconhecida como um dos pilares na formação do indivíduo. Diante tantos relatos de familiares nada motivadores, decidi seguir a segunda opção de profissão que alimentava o âmago do meu ser. Após dois vestibulares concorrendo para o curso de Letras com habilitação em português e não obtendo êxito, decidi cursar o que tornei minha segunda opção, onde na verdade sempre foi a primeira, ser jornalista. Acontecia ali, o primeiro evento da minha carreira, nos meus 18 anos de idade, onde convoquei a família com que residia e anunciei que estaria decidindo fazer vestibular para o que queria: Comunicação Social com habilitação em jornalismo. Foi um verdadeiro alarde, aquele evento tornou-se minha primeira notícia antes mesmo de cursar a universidade.

Sempre fui muito estudioso e incentivado a ler, tanto por minha amada mãe Conceição, a que todos chamavam carinhosamente de Mica quanto pela minha querida tia Socorro, a eterna Tia Côca. No ensino primário, tive contato com muitos gibis e os grandes clássicos da literatura como os Irmãos Grimm e Charles Perrault. Sempre fui muito sensível e tive a oportunidade de descobrir isso na minha primeira experiência com o teatro e a dança aos 09 anos de idade. Desde então, fui crescendo com essas duas vertentes da arte como minhas companheiras. Vivemos em um país, onde não valorizamos a arte, acredito que seja por que ela promove a reflexão. Fugindo dos relatos nada motivadores dos professores da minha família, dessa desvalorização da arte na minha nação, lá vai eu alimentar meu sonho de infância e provocar reflexão nas pessoas de outra forma.

Entrar na academia foi a maior alegria dessa minha atual existência, foi lá que descobri o quão poderoso eu sou e o quanto a minha responsabilidade como formador de opinião era grande. Se tornando maior ainda, quando se é artista e espírita. A ciência encontrada tanto no ambiente espírita quanto no acadêmico me revelou um lado meu até então desconhecido, um Rafael que deveria ser claro, objetivo e conciso. Bem, meus caros leitores, fazem 10 anos de carreira como jornalista e 19 como ator e dançarino, mas confesso que tenho muito ainda a aprender. Porém, uma coisa tenho certeza, meu faro jornalístico e minha percepção vem cada vez mais ficando aguçada, a ponto de enxergar fatos do cotidiano de modo bem subjetivo e isso fazer criar essa crônica que vos escrevo com muito carinho.

Era uma tarde de sábado como todas as outras, na verdade deveria ser, mas não foi... Um rapaz estava fazendo alguns serviços na minha casa e necessitou ir até o posto de gasolina que fica aqui próximo encher o pneu da carroça que utilizava e convidou-me para acompanhá-lo, já que ele não sabia chegar ao referido posto. Não sabia eu que estaria nessa experiência mais um aprendizado oferecido pela providência divina.

Chegando ao posto encontramos uma fila para que fosse realizada a mesma ação, mas um fato em particular me chamou muita atenção. O primeiro da fila era um carro que de popular não tinha nada, nesse carro havia um casal. Para o motorista encher o carro, contou com a ajuda de algum dos integrantes do segundo lugar da fila. Vejam que na segunda posição da fila estava uma carroça de burro, com uma família a bordo, pai, mãe e três filhos (sendo uma menina e dois meninos). Prontamente, o pai e um dos meninos mostraram-se solícitos para auxiliarem o motorista do carro nada popular. Enchendo os pneus do carro, o motorista permaneceu no ambiente. O sentimento de alegria e de simplicidade daquela família da carroça fazia meus olhos brilharem. Eles encheram os pneus de sua humilde carroça e se propuseram a ajudar também o rapaz que estava com a carroça de mão a encher também os pneus.

Esse episódio trouxe-me várias reflexões em minha mente. Recordei da passagem no Evangelho de São Marcos, capítulo 10 – versículos de 13 a 16: Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhes apresentavam. Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: "Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. - Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará." - E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos.

Aquelas crianças da carroça de burro, tão felizes na sua simplicidade, ficaram por dias na minha memória e lembraram-me que a pureza do coração é companheira inseparável da simplicidade e da humildade. Essa pureza recusa toda ideia de egoísmo e de orgulho. Por isso Jesus veste a infância como símbolo dessa pureza, da mesma forma que a tomou como o da humildade.

É exata a comparação, todavia, do ponto de vista da vida presente, já que a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer Jesus, de modo absoluto, que o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem.

Será que nos assemelhamos às crianças? A doutrina moral do Cristo foi tão bem exposta por meio de seu exemplo há mais de 2.000 anos e até hoje existem muitos “cristãos” que consideram mais garantida a salvação através das práticas exteriores do que pelas da moral. O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.

E por falar em coração, tem coisa melhor para o coração do que trabalhar para o Senhor? Será que somos nós os trabalhadores da última hora? Como estão estes que se dizem obreiros do Senhor? Realmente o são?

O Espírito da Verdade nos assegura que se aproxima o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão! Clamarão: “Graça! graça!” O Senhor, porém, lhes dirá: “Como implorais graças, vós que não tivestes piedade dos vossos irmãos e que vos negastes a estender-lhes as mãos, que esmagastes o fraco, em vez de o amparardes? Como suplicais graças, vós que buscastes a vossa recompensa nos gozos da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebestes a vossa recompensa, tal qual a quisestes. Nada mais vos cabe pedir; as recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da Terra.” Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. Cumprir-se-ão estas palavras: “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus”.