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Os festejos juninos na visão espírita

28 de Junho de 2020 às 20h25

As festas juninas que se transformaram numa tradição cultural do povo brasileiro – mais intensamente na Região Nordeste do País – tiveram suas origens nas celebrações portuguesas dedicadas aos santos populares consagrados pela Igreja Católica: Santo Antônio (Fernando de Bulhões, padre franciscano caridoso do século XIII), São João (João Batista, reencarnação de Elias, que foi precursor de Jesus) e São Pedro (apóstolo que assumiu a liderança dos cristãos após a morte de Jesus).

Iniciaram-se no Brasil as comemorações pelos imigrantes europeus, que se vestiam como camponeses e usavam como instrumentos musicais a sanfona e o triângulo, decorando os ambientes chamados de arraiais com enfeites de papel, balões de ar quente e queima de pólvora, trazidos naquela época das viagens empreendidas em direção à Ásia e promovendo danças de origem ibérica, como a que usava fitas e a brincadeira do pau de sebo, o casamento matuto que termina com uma dança coreografada, que é a quadrilha.

Compõem, ainda, o cenário, as famosas “simpatias” ou adivinhações banhadas de superstições a respeito do futuro matrimonial das mocinhas que desejavam casar, e as danças ao redor da fogueira, hábito dos povos mais antigos que ritualizavam os agradecimentos aos deuses.

Tais costumes se incorporaram à formação cultural do povo brasileiro, que inseriu outros ingredientes em seu acervo, como a comida de milho, que é colhido por essa época, quando a chuva ocorre, representando uma forma de agradecimento aos santos – substitutos dos deuses - pela colheita.

Para a Doutrina Espírita, no entanto, não se há de fomentar convenções sociais presas a exterioridades, nem tampouco cultuar. O Espírito André Luiz, em se pronunciando no livro Conduta Espírita, pelo médium Waldo Vieira, menciona que havemos de “dispensar sempre fórmulas sociais criadas ou mantidas por convencionalismos ou tradições que estanquem o progresso” recordando ainda que “O Espírita não se prende a exterioridades”.

Ainda lembra que é necessário “Afastar-se de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da temperança.”

Já no que se trata das adivinhações ou simpatias buscadas para se saber de casamentos vindouros, cuidado se há de ter com a possibilidade de manipulação dos consulentes por Espíritos levianos ou brincalhões, que se comprazem em estimular falsas expectativas e direcionar os mais desavisados a caminhos menos recomendáveis.

Note-se que, conforme mencionado por Allan Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1859, quando foi questionado por um Príncipe designado simplesmente como “G.” se os Espíritos podem revelar o futuro, o mestre lionês asseverou que espíritos menos esclarecidos não vislumbram fatos futuros. “Os Espíritos só conhecem o futuro proporcionalmente à sua elevação. Os inferiores nem o seu próprio futuro conhecem e, muito menos ainda, o dos outros. Os Espíritos superiores o conhecem, mas nem sempre lhes é permitido revelá-lo. Em princípio, e por um sábio desígnio da Providência, o futuro nos deve ser oculto. Se o conhecêssemos, nosso livre-arbítrio seria entravado[...].”

As simpatias, por sua vez, tratam de ingênuos rituais com o uso de objetos materiais, como papéis como os nomes de pretendentes jogados em recipiente com água, faca no tronco de determinada árvore e outros tantos, que sempre se fazem acompanhar por pedidos formulados e ditos em voz alta e em determinado horário específico, sem os quais não teriam suposto resultado eficaz.

Os Espíritas, sabedores de que as preces não se condicionam a fórmulas, mas não prescindem de sinceridade e fé, justos pleitos e resignação, tem-se como infantis tais procederes, superstições inócuas e igualmente passíveis de tornar os seus protagonistas promotores espontâneos de brincadeiras e chacotas movidas a preces, bem como vulneráveis a serem iludidos por qualquer resultado que se dê, mesmo que sem nenhuma interferência espiritual.
As fórmulas ou simpatias, pois, não são o meio mais feliz de se obter intentos pessoais, por vezes alheios à programação daquela reencarnação. São nossos momentos sublimes de contato com nosso Pai e com a Espiritualidade que nos orienta incansavelmente, não havendo de se tornar mero brinquedo folclórico.

Não esqueçamos, entretanto, que a prece sentida e sincera, proferida com fé e humilde propósito, jamais será um desperdício, sempre representando um intercâmbio salutar com aqueles que conhecem nossos mais profundos ideais. Nunca ficaremos sem respostas, mas é possível que não sejamos atendidos, vez que somente a Deus cabe nos conceder o que melhor nos servirá de encargo – sejam graças ou aparentes desgraças.

Ao tratar dos Médiuns no capítulo XIV – Das manifestações espíritas – do Livro dos Médiuns, a questão sobre a eficácia de algumas preces mais do que de outras foi assim tratada: “Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da ideia ligada ao uso da fórmula.”

A lucidez trazida pelos conhecimentos espíritas inspira-nos a uma auto reflexão natural sobre as manifestações festivas, suas expressões lúdicas e excessos desnecessários, sobre nossa milenar repetição de padrões culturais e sobre a contribuição que podemos empenhar em prol do progresso humano.

Não esqueçamos de apor nosso olhar amoroso sobre tudo o que nos cerca, desenvolvendo gentilmente nossos valores, que se elevarão na medida em que buscarmos o melhor de nós em direção da almejada reforma íntima.

Luiza Úrsula Matias de Azevedo
Trabalhadora da Federação Espírita do Rio Grande do Norte - FERN