Imaginemos uma entrevista com Allan Kardec a propósito de seu livro “A Gênese”, em que com suas palavras poderíamos obter respostas às questões seguintes.
Pergunta — Pode o espiritismo ser considerado uma revelação?
Resposta — Do ponto de vista de nos dar a conhecer uma coisa desconhecida, sim. Neste sentido, também as ciências são revelações. A astronomia nos revela um mundo astral. A geologia nos explica a formação da terra. A química nos revela as leis das afinidades. A fisiologia nos explica as funções do organismo. E assim por diante. Os cientistas são de certa forma considerados reveladores.
P — Qual a característica essencial da revelação? R — Tem que ser a verdade.
P — A verdade tem que ser provada pelos fatos? R — Os fatos têm que ser demonstrados pela verdade. Sendo falsos, não existe revelação.
P — Os reveladores são os descobridores das verdades, tal como os cientistas ou os gênios? R — Originalmente, sim. Mas também podem ser os divulgadores, como são os professores em relação ao saber, na divulgação de conhecimentos. Há, portanto reveladores primários e reveladores secundários. Como reveladores primários, poderíamos também classificar os profetas (enviados) e os messias (missionários), incumbidos de revelar a verdade divina aos homens.
P — Em que consiste a revelação dos homens de gênio? E por que são homens de gênio? R — Notemos que na sua maioria, trazem, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que com pouco trabalho desenvolvem.
P — Onde adquiriram esses conhecimentos inatos? R — A única explicação razoável está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem de gênio é um espírito que já vivera por mais tempo e que, certamente numa só existência não acumularia tantos conhecimentos. Uma vez encarnado, traz a bagagem do que sabe. E, como sabe mais do que outros e já não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um esforço interior e não resultado de um privilégio. Pois Deus não lhe daria uma alma mais favorecida do que a do homem comum.
P — Mas os homens não progridem por si mesmos? R — Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços de sua inteligência. Mas por conta própria, sem ajuda dos gênios, só muito lentamente progrediriam no campo das ciências. Os espíritos mais adiantados reencarnam para adquirirem mais conhecimentos e para que os outros se beneficiem do que sabem. Todos os povos tiveram homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulsos e tirá-los da inércia.
P — Então os homens de gênio cumprem uma missão? R — Sim. Com o fim de ativarem o progresso em determinado sentido. Sua missão é propiciar ao comum dos homens os conhecimentos e as verdades que estes ignoram. Assim os cientistas, assim os filósofos, como verdadeiros missionários cujas ideias atravessam séculos beneficiando a humanidade. Tal como os reveladores das verdades científicas, há também os reveladores dos valores morais (os missionários e os messias) que insculpem na consciência humana os valores essenciais para sua elevação ao plano da espiritualidade.
P — E os valores morais dependem de conhecimentos científicos ou filosóficos? R — No sentido de valores associados a algum tipo de religiosidade, não. A revelação das coisas espirituais independe da inteligência lógica e decorre da inspiração de que são dotados seus reveladores. Independe, portanto, da verificação ou da demonstração própria do campo científico. No campo dos valores espirituais, todos os povos tiveram seus reveladores apropriados ao seu meio, ao seu tempo, e às circunstâncias de suas necessidades culturais.
P — Há revelações de Deus diretamente aos homens? R — Não se pode dizer sim nem não, em caráter individual. Mas é certo que alguns homens podem estar mais próximos das revelações divinas. “O que não padece dúvida é que os espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se incumbem do seu pensamento e podem transmiti-lo”. Quem conhece os fenômenos espíritas sabe que há relações que se estabelecem entre os encarnados e os desencarnados. “É exato dizer que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, mas não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem intermediários diretos da divindade ou de seus mensageiros”.
P — E Cristo entre os homens, não foi o revelador divino? R — Na história da humanidade, podemos citar o exemplo de dois grandes reveladores: Moisés e Cristo. “Foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso está a prova de sua missão divina”. E conclui Kardec: “Moisés, como profeta revelou aos homens a existência de um Deus único, criador de todas as coisas, promulgou a lei do Sinai e lançou as bases da verdadeira fé. O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara, assim como a das penas e recompensas que aguardam o homem depois da morte”. Eis por que o Espiritismo é considerado a terceira revelação.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: [email protected]) DM