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Mensagem psicográfica de 1876 anunciava a invenção do avião por Santos-Dumont

12 de Dezembro de 2015 às 13h35


Ao registrar o centenário do heróico feito de Santos Dumont, que no dia 23 de outubro de 1906 voou pela primeira vez com o 14 BIS, a Federação Espírita Brasileira (FEB) rememora um outro fato histórico, que relaciona Dumont com o Espiritismo: a mensagem do Espírito Estevão (Etienne) Montgolfier (1745-1799) anunciando a descoberta do avião.

Santos Dumont iniciara suas experiências com o balão “Brasil”, em 4 de julho de 1898; prosseguira, em setembro do mesmo ano, com o “Santos Dumont no 1”; e, apesar de alguns acidentes, continuou os experimentos com outros balões, até que construiu o dirigível no 6, com o qual contornou a Torre Eiffel, em Paris, no dia 19 de outubro de 1901. Com esse feito, demonstrou a dirigibilidade dos balões e recebeu o prêmio Deutsch, de 100.000 francos-ouro. O coração generoso de Dumont já se anunciava aí: distribuiu todo o dinheiro do prêmio entre seus mecânicos e os pobres de Paris.


Já consagrado mundialmente, Santos Dumont veio ao Brasil em 1903. Ao passar pelo Rio de Janeiro, a FEB, por intermédio do seu presidente, Leopoldo Cirne, entregou-lhe em mãos um ofício datado de 12 de setembro de 1903, acompanhado do exemplar da revista Reformador de 1o de agosto de 1883. Naquela data, a revista da FEB publicara uma mensagem mediúnica profética, sobre seu futuro invento. Assinada pelo Espírito Jacques-Etienne Montgolfier, a mensagem havia sido recebida em 30 de julho de 1876 (quando Dumont tinha três anos de idade), na cidade de Silveiras (SP), pelo médium Ernesto Castro. Montgolfier foi um dos pioneiros da navegação aérea.

Observe que a mensagem mediúnica não trata dos balões (mais leves que o ar). O Espírito, literalmente, fala da invenção do avião (o mais pesado que o ar). Trinta anos antes, os Espíritos já falavam da velocidade, do motor e das características dos futuros aviões. Um ano depois do vôo do 14-BIS, Santos Dumont inventaria sua obra-prima, um avião leve que até hoje é o modelo para todos os aviões: a demoiselle. Transparente, elegante e pesando somente 40 quilos, o pequeno avião foi comparado pelos franceses a uma libélula. Foi o primeiro avião a ser fabricado em série no mundo: fruto, mais uma vez, do desprendimento de Santos Dumont. O inventor do avião jamais cobrou direitos autorais e pessoas de todos os continentes podiam construir aviões iguais aos dele e encher os ares com os pássaros mecânicos.

Leia abaixo:

O ofício da FEB
A mensagem de Etienne Montgolfier
A biografia de Montgolfier


OFÍCIO DA FEB A SANTOS DUMONT

“Rio, 12 de Setembro de 1903. Prezado e ilustre patrício Sr. Alberto Santos-Dumont:

Consenti que ao coro de unânimes e afetuosas saudações, com que é justamente festejado o vosso regresso à pátria, se venha associar, por seus diretores abaixo assinados, a Federação Espírita Brasileira. E não vos pareça estranho, pela índole de suas cogitações, este testemunho da nossa Sociedade que, ao contrário, por força mesmo dos seus ideais espiritualistas e humanitários, não se pode de modo algum desinteressar das conquistas do século e dos benefícios que à causa do progresso humano trazem os seus colaboradores, em cujas fileiras vos reservou a Providência tão assinalado posto.

Filhos desta abençoada terra da Santa Cruz, cujos gloriosos destinos nem sequer pode sonhar a descuidosa geração contemporânea, é com verdadeiro interesse que temos acompanhado o vosso esforço perseverante, na absorção do gênio e da predestinação, por dotar a Humanidade com os benefícios dessa conquista, com que, imortalizando-vos, enobreceis ao mesmo tempo a nossa Pátria. Não enxergueis nestas expressões o intuito de vos estimular sentimentos de vaidade que, por fortuna vossa, parece serem alheios ao vosso espírito, revestido, ao contrário, da modéstia e do desinteresse característicos do verdadeiro missionário.

Se algum outro fim temos em vista, além das saudações fraternais que vos trazemos, é o de oferecer-vos, como um documento que particularmente nos parece dever interessar-vos, o número do Reformador de 1 de Agosto de 1883, jornal que no ano seguinte começou a ser órgão da nossa Sociedade, tal se conservando até agora, como vereis da coleção deste ano, que igualmente vos oferecemos.

Ali se encontra uma comunicação espírita, ditada quando apenas contáveis 3 anos de idade, a qual, recebida por um médium que ainda vive, parece que se entende convosco. Ignoramos quais sejam as vossas idéias acerca desta nova ciência que na gloriosa França, como por toda a parte, conta os mais esclarecidos e dedicados cultores. Sabemos, entretanto, pelas referências dos jornais a vosso respeito, que sois uma alma crente, alcandorando-vos nos transportes da prece, quando, nas arriscadas ascensões, expondes a vossa vida; e pois, sem nenhuma preocupação de proselitismo, temos unicamente em vista ministrar-vos esse esclarecimento acerca da providencialidade da vossa missão na Terra.

Ali se fala, é certo, de “pássaro mecânico”, superior aos balões, meros “exploradores e precursores da admirável invenção”. Não se entenderá, porém, com os balões cativos esta alusão? Assim nos parece, tanto mais que, não somente o vosso invento tem o valor da conquista definitiva do ar, como a data da comunicação confirma a anterioridade do vosso nascimento.

Guardai, pois, esse jornal, ao menos como uma afetuosa e espontânea recordação dos vossos irmãos espíritas do Brasil, e permiti-nos que, abraçando-vos, vos exortemos a que, de par com a simplicidade e modéstia que vos distingue, e tão bem vai nas almas crentes, conserveis sempre em Deus essa confiança, que é o segredo dos vossos triunfos, e serenidade de ânimo, e será o da vossa glorificação, não aos olhos dos homens, o que bem pouco vale, mas aos desse mesmo Deus, que é a nossa força, o nosso amparo e a razão única da nossa própria existência.

Se vos agradar continuardes a receber a nossa modesta folha, enviai-nos o vosso endereço em Paris.

E crede sempre nos cordiais e fraternos sentimentos dos vossos sinceros irmãos em Jesus.

Leopoldo Cirne, presidente;
Geminiano Brazil de O. Goes, vice-presidente;
Albino Gonçalves Teixeira, 1o secretário;
Nilo Fortes, 2o secretário;
Ulysses de Mendonça, 3o secretário;
Pedro Richard, tesoureiro.”

MENSAGEM MEDIÚNICA

Em 30 de julho de 1876, em Silveiras (SP), o médium Ernesto Castro recebia espontaneamente a seguinte mensagem do Espírito Estêvão Montgolfier:

“Vencer o espaço com a velocidade de uma bala de artilharia, em um motor que sirva para conduzir o homem, eis o grande problema que será resolvido dentro de pouco tempo. Essa máquina poderosa de condução não há de ser uma utopia, não. O missionário, que traz esse aperfeiçoamento à Terra, já se acha entre vós. O progresso da aviação aérea, que tantos prosélitos tem achado e tantas vítimas há feito, não está, portanto, longe de realizar-se.

O aperfeiçoamento de qualquer ciência depende do tempo e do estado da Humanidade para recebê-lo. A locomotiva, esse gigante que avassala os desertos e vence as distâncias, será um insignificante invento ante o pássaro colossal, que, qual condor dos Andes, percorrerá o espaço, conduzindo em suas soberbas asas os homens de vários continentes.

Os balões, meros exploradores e precursores da admirável invenção, nada, pois, serão perante o belo e portentoso pássaro mecânico. Esse Deus de bondade e de misericórdia, que nada concede antes da hora marcada, deixa primeiramente que seus filhos trabalhem em procura da sabedoria, e depois que eles se têm esforçado em descobrir a Verdade, aí então lhes envia um raio de sua divina luz. Já vêem, ó mortais, que a navegação aérea não será um sonho, não, mas sim uma brilhante realidade.

O tempo, que vem próximo, vos dará o conhecimento desse estupendo motor. Brasil, tu que foste o berço dessa grande descoberta, serás em breve o país escolhido para demonstrar a força dessa grandiosa máquina aérea. Eis o prognóstico que vos dou, ó brasileiros!”.

ETIENNE E JOSEPH MONTGOLFIER – BIOGRAFIA


Os irmãos Joseph Michel Montgolfier (26 de Agosto de 1740 – 26 de Junho de 1810) e Jaques ÉtienNe Montgolfier (6 de Janeiro de 1745 – 2 de Agosto de 1799) foram inventores que construíram o primeiro balão tripulado no ano de 1783.

Os irmãos eram filhos de um fabricante de papel (a fábrica é a Canson, que até hoje é uma das companhias mais tradicionais e modernas do mundo) de Annonay, sul de Lyon, França. Consta que, em uma ocasião, quando os irmãos brincavam com um saco de papel aberto invertido sobre o fogo, eles repararam que o saco flutuava. Com isso, descobriram que poderiam finalmente realizar o grande sonho da humanidade, o de voar. Passaram então a fazer diversos experimentos com diversos materiais até construírem um balão prático.

No dia 5 de junho de 1783, exibiram publicamente um balão que possuía 32 m de circunferência e era feito de linho que foi enchido com fumaça de uma fogueira de palha seca, elevou-se do chão cerca de 300 m, durante cerca de 10 minutos voando uma distância de aproximadamente 3 quilômetros.

No dia 19 de setembro de 1783, perante o Rei Luís XVI e a Rainha Maria Antonieta, Joseph Montgolfier repetiu sua experiência, o balão voou por 25 minutos com dois ocupantes (Pilatre de Rozier e François Laurent) percorrendo mais ou menos 9 quilômetros.

Muitos não consideram Etiene e Joseph Montgolfier como os inventores do balão quente. Em 1709, o Padre Jesuíta brasileiro Bartolomeu de Gusmão teria conseguido a ascensão em um balão cheio de ar quente, portanto quase 80 anos antes dos irmãos franceses Montgolfier.

O invento de Montgolfier ao que tudo indica, segundo as revistas francesas Nouvelle Europe e L´Aeron do início do século XX, foi mera cópia do aerostato de Gusmão, uma vez que, após sua fuga para a Espanha, deixou seus planos inventivos com seu irmão e notável cientista Alexandre de Gusmão. Sabe-se que quando Alexandre esteve em Paris, manteve estreitas relações de amizade com o cientista José de Barros, que, por sua vez era amigo dos Montgolfier. Não há descrições detalhadas do aparelho, provavelmente porque foram destruídas pela Inquisição, mas alguns desenhos fantasiosos da aeronave estão impressos no periódico Wienerische Diarium de 1709. Por causa da ausência de provas, não se sabe se o balão de Bartolomeu de Gusmão chegou realmente a alçar vôo.

Fonte: Aura Celeste