Os vestibulandos da UNESP- Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – depararam-se, no vestibular de 2015, com a questão: O que explicaria o virtuosismo de alguns indivíduos?
O enunciado trazia dois textos para explicar as capacidades morais e intelectuais do homem — o conceito filosófico do inatismo –, especialmente as habilidades no campo da música. Um dos textos vinha de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec. O outro fora extraído de um artigo da revista Superinteressante, assinado por Nelson Jobim.
A resposta dos Espíritos [item 370], com adaptações, foi apresentada dessa forma:
Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as capacidades que lhe são próprias; ora, não são os órgãos que produzem as capacidades, mas as capacidades que conduzem ao desenvolvimento dos órgãos.
O Espírito, se encarnando, traz certas predisposições, admitindo-se, para cada uma, um órgão correspondente no cérebro. O desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as capacidades se originassem nesses órgãos, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade dos seus atos. Seria preciso admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais.
Contrapondo a visão espírita, o artigo da Superinteressante, de maio de 2015, Um dom de gênio, no qual o autor cita pesquisa do neurologista alemão, Helmut Steinmetz, da Universidade Henrich Heine, de Düsseldorf, que comparou cérebros de um grupo de trinta músicos com os de outros trinta que não se dedicavam à arte musical.
Na conclusão do cientista, o virtuosismo dos primeiros explicar-se-ia por um acentuado desenvolvimento do lobo temporal esquerdo (região do córtex cerebral onde são processados os sinais sonoros).
Resolução do Colégio Objetivo
No texto de Kardec, codificador do Espiritismo, religião amplamente professada no Brasil, o Universo é visto como constituído de matéria e Espírito. Essa concepção tem ressonância no pensamento de Platão e Descartes, considerados também pensadores dualistas. Assim, o corpo material é plasmado pelo Espírito que o encarna. A alma, entendida por Kardec como o Espírito encarnado, é a portadora de uma bagagem cultural e moral de existências passadas. Conceito semelhante ao inatismo cartesiano e platônico, em que a razão humana é portadora e produtora de conhecimento humano.
No artigo de Nelson Jobim, a genialidade humana surge como produto de determinação biológica. Tal concepção se aproximaria mais dos empiristas, para quem toda inteligência nasce como tábula rasa, e nesse caso poderíamos admitir que a genialidade resultaria do acaso. O que, na crítica de Kardec, “os maiores gênios, sábios, poetas e artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais.”
Que os estudantes tenham tido um bom desempenho na prova. E levem para os bancos universitários o desejo de estudar a Doutrina Consoladora, que, com muita razão, foi considerada por alguns como uma faculdade que reúne todos os ramos do conhecimento humano.
Fonte: USE São Paulo