Uma técnica diferente, que usa o frio, traz esperanças para pessoas que têm arritmia cardíaca. A crioablação traz qualidade de vida para pacientes como a contadora Nanci Ferreira. Por dez anos, ela sofreu com arritmia. Nas crises, que eram frequentes, o coração dela chegava a bater quase 200 vezes por minuto, mais que o dobro recomendado para uma pessoa jovem e saudável.
“Era uma aceleração muito intensa, sensação de morte. Automaticamente, eu precisava sentar, fazer os procedimentos que eram orientados, como tomar agua gelada, estirar as pernas, ficar sentada de forma bem imóvel, para tentar desacelerar”, conta.
A causa da arritmia da Nanci era uma doença congênita chamada Wolf Parkinson White. A pessoa nasce com uma via elétrica a mais no coração chamada via acessória, entre os átrios e os ventrículos. O normal é ter só uma. A presença de uma via a mais provoca a aceleração dos batimentos. Havia ainda um agravante: a via acessória estava colada com a normal.
Uma técnica cirúrgica muito usada em casos de arritmia é a ablação por radiofrequência, que cauteriza pelo calor. Entretanto, para quem tem Wolf Parkinson White, o procedimento pode ser arriscado. “Quando esses dois fios elétricos, o normal e o anômalo, estão juntos, você pode, através da ablação, lesionar os dois sistemas de condução, os dois fios”, explica a cardiologista Alessandre Rabello.
Há quatro anos, um método mais seguro começou a ser usado em pacientes com esse agravante, a crioablação. Os médicos introduzem um cateter pela virilha que chega até o coração. Na ponta, uma pedra de gelo formada por nitrogênio cauteriza a via acessória até que ela perca a capacidade de emitir impulsos elétricos. O cateter é resfriado a uma temperatura de 72 graus negativos. “Você tem mais segurança, consegue cauterizar o fio anômalo sem atingir o fio normal, e aí você consegue a cura do paciente”, completa a cardiologista.
O procedimento dura de uma hora e meia a três horas, dependendo do quadro de cada paciente. Nesse tipo de ablação, o risco de haver uma complicação que leve a um bloqueio do coração é muito baixo: 1,5%.
Antes da chegada desta técnica cirúrgica à frio, pacientes como Nanci tinham que conviver com a doença tomando remédios. Depois que ela passou pelo procedimento, nunca mais teve crises de arritmia. A qualidade de vida é outra. “Agora é sem medo, sem pânico de estar, inesperadamente, andando na rua e ter a aceleração. Hoje eu tô tranquila, sei que não vai acontecer”, finaliza a contadora.
G1