Às vezes, basta um comentário sobre o jantar ou o que fazer no fim de semana e pronto: a conversa logo azeda e descamba para recriminações mútuas. Há muitos casais que vivem numa espécie de estado de beligerância permanente, mas será que a animosidade piora com o passar dos anos e condena a relação? De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia de Berkeley, o tempo pode ser um bom aliado para aparar as arestas.
Os pesquisadores analisaram conversas gravadas entre 87 casais: os que tinham entre 40 e 50 anos estavam juntos há 15 anos; os na faixa entre 60 e 70 eram casados há 35 anos. Funcionava desse modo: os cônjuges eram observados conversando sobre experiências e situações de conflito. O material era gravado e o comportamento de marido e mulher era avaliado de acordo com expressões faciais, linguagem do corpo, conteúdo verbal e tom de voz. As emoções eram então divididas em categorias: raiva, desprezo, nojo, medo, tensão, tristeza, comportamento dominante ou defensivo, afeição, entusiasmo e assim por diante. Ao longo de 13 anos, cada casal esteve no laboratório três vezes.
Os psicólogos notaram que, independentemente da satisfação com o relacionamento, o comportamento emocional do casal se tornava mais positivo com a idade. Descobriram que, conforme envelheciam, havia mais leveza e humor na relação e eles demonstravam mais carinho um pelo outro. Comportamentos negativos, como críticas ácidas e ficar na defensiva, eram substituídos por mais afeto e compreensão.
No laboratório de psicofisiologia da universidade, que estuda a relação entre fenômenos psíquicos e fisiológicos dos indivíduos, pesquisas anteriores já apontavam que as mulheres eram mais expressivas do ponto de vista emocional – sabemos disso muito bem! Essa característica as levava a se tornarem mais dominantes na relação na velhice, mas, no cruzamento dos estudos, tal mudança de comportamento não afetava negativamente a trajetória ascendente de afeto do casal.
A pesquisa, que foi publicada recentemente na revista “Emotion”, vai na contramão do senso comum de que a chama se desgasta e os casamentos tendem a se deteriorar. Robert Levenson, professor de psicologia em Berkeley, há 25 anos acompanha cerca de 150 relacionamentos de longa duração. Os participantes do estudo estão, em sua grande parte, na faixa dos 70, 80 e até 90 anos. Para ele, a descoberta joga luz no que chamou de “grandes paradoxos da vida dos mais velhos”. “Mesmo tendo que enfrentar a perda de amigos e parentes, idosos que têm casamentos estáveis são relativamente felizes, com taxas menores de depressão e ansiedade. A união se torna uma aliada da saúde mental. Também nos traz evidências comportamentais de que, com a idade tendemos a focar nos aspectos positivos de nossas vidas”, explicou.
G1 Rio de Janeiro