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As mães e o progresso

09 de Maio de 2020 às 18h50

Não por acaso ou vazio costume se atribui aos mais nobres sentimentos que possamos experimentar a similitude com as características maternais.

Às mães – em geral – são atribuídas as ações revestidas de sabedoria, compaixão, justiça, desvelo e desprendimento incondicional. São um modelo apontado para Cristo, na medida em que sempre que o homem – humanidade – ouve as diretrizes maternas, observa serem bem sucedidas suas empreitadas.

É como se às mães fosse deferido um sentido a mais, um trânsito fluente com a dimensão superior, uma antena vigilante ao redor dos rebentos, sempre captando os sinais de perigo em sua presente ou mesmo futura caminhada.

E como nada na Criação se mostra vão, questionamo-nos porque tal concessão Divina teria aparelhado o organismo feminino, servindo-nos dos ensinos da Codificação, que, ao se referirem à condição da maternidade, deixam muito claro o importante papel dos Espíritos encarnados em organismo feminino na dinâmica da evolução.

Na Revista Espírita de Julho de 1864, no item “Notícias Bibliográficas”, Allan Kardec descreve um livro que lhe teria sido submetido à aprovação – “A educação materna – conselhos às mães de família -, que seriam uma compilação de instruções ditadas à médium Émilie Collignon, de Bourdeaux, pelo Espírito que se identifica como Etienne. Resguardando-se a contextualização temporal, mostra-se muito proveitosa a leitura, tanto para que se visualize os costumes sociais então vigentes, quanto para nos depararmos com sentenças atemporais, tais como as seguintes constatações, presentes na primeira parte do opúsculo:


Há já algum tempo, sentiu-se que o papel da mulher na sociedade era deturpado, e procurou-se em quimeras um remédio que só podia ser achado na razão fria e sã.
Queria-se a mulher livre, fazia-se a mulher licenciosa; procurava-se instruí-la, fazia-se dela uma pedante; reprimem-na no lar, fazem dela uma criança chata, que envelhece criança, sempre criança!
Por que então essas criaturas, que têm a mesma origem que o homem — quer as tomemos do ponto de vista espírita, como espírito que se encarna ora no invólucro delicado e nervoso da mulher, ora no corpo robusto e vigoroso do homem; quer as tomemos do ponto de vista do Gênesis, como descendentes de Eva, formadas pelas mãos do Criador; fração de Adão, que recebe o sopro, a vida, a alma enfim de Deus; — por que então, dizíamos nós, existe entre os dois sexos um disparate tão grande? Por que a vida da mulher se esvai, se dissipa em ocupações e pensamentos frívolos; por que é sem força moral e sem força física; por que o abastardamento da inteligência, enfim, a marca com seu ferrete desde o nascimento?
É porque o homem esqueceu que a mulher traz no ventre o destino das nações, o futuro do mundo; que é ela que pega no berço o estadista, o filósofo, o teólogo, a mãe de família; que os molda, que os modela na idade em que as impressões são fáceis e profundas.
Repetimo-lo: a mulher é o árbitro dos destinos dos povos. Preparem, portanto, para o próximo século homens fortes, mulheres livres; e para que a mulher seja livre, quebrem as amarras com que a futilidade a sobrecarrega. Para que os homens sejam fortes, preparem mães enérgicas e sérias. (grifamos)


N´O Livro dos Espíritos, ao tratar da Lei de Igualdade, mais especificamente da Igualdade dos direitos do homem e da mulher, esclarecem os Espíritos, nas questões 821 e 822, que as funções a que a mulher é destinada são de maior monta daquelas direcionadas aos homens, vez que ela é justamente “quem lhe dá as primeiras noções da vida”. E continua, ainda a propósito das desigualdades de tratamento entre homens e mulheres, afirmando que “a emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização”.

Em tempos de grande contabilização de famílias monoparentais chefiadas por mulheres, por diversas motivações que podem ir da viuvez ao abandono do lar, da gravidez indesejada ao divórcio, tem-se que quando o homem não exerce sua incumbência familiar, vem a mulher e - também por motivos que variam em muitas matizes – assume sozinha a responsabilidade pela sobrevivência e educação dos filhos.

Claro que destacamos aqui a generalidade das situações, deixando de lado aquelas que sucumbem às dores e provas, retardando suas atribuições, por vezes, por algumas reencarnações. Lembremos que cada Espírito traz em seu livro evolutivo peculiaridades próprias, às quais não nos cabe censurar, mas antes, compreender e tentar auxiliar, mesmo que por preces.

O Capítulo XIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo descreve quanto respeito e zelo haveremos de ter por nossos pais, destacando a passagem onde Jesus questiona quem seria sua mãe, para estender a todos da irmandade humana a possibilidade de lançarem mão dos recursos maternais, cuidando-nos mutuamente, preocupando-nos com o nosso próximo como se mães de cada um deles fôssemos.

As mães perdoam como perdoou o Cristo. Não setenta vezes sete. Mas sete vezes o infinito. É tanto que ao vermos uma mãe olhar compassivamente para seu filho em dificuldades auto angariadas, vemos naqueles olhos uma expressão divina inexplicável, cheia de cuidado e piedade, vontade de acolher no colo para não lhe permitir mais o erro, vontade até de assumir os erros do filho equivocado para subtrair todo o sofrimento pelo qual ele possa passar.

Também aqui lembramos aquelas mães que erram na medida do amor. Mas quão poético é errar, amando... Não obstante, o desmedido amor, aquele que deseduca e incentiva os excessos, há que ser analisado pelo passado da mãe, que, cheia de exageros, exagera até em proteger, passando do ponto ao não permitir que seu filho enxergue os limites morais que as Leis Divinas impõe para traçar o caminho reto e probo.

Assim é que, a ocasião destinada à especial celebração das mães, inspira-nos a reflexão de quanto de mãe temos procurado ser em nossas vidas. Quanto de compaixão e empatia temos angariado em nosso coração? Quão justos buscamos ser em nossos julgamentos, atitudes, sentimentos e feitos?

Nosso convite é no sentido de, para além do louvor às mães, aventuremo-nos em seu universo delicado e mais próximo de Deus.

Feliz dia às mães. Que seu dia seja sempre.


Luiza Úrsula Matias de Azevedo
Trabalhadora da Federação Espírita do Rio Grande do Norte - FERN