Os computadores estão ficando cada vez mais poderosos e cada vez menores, tanto que hoje os levamos no bolso da calça, na forma de celulares. Mas, para o jovem engenheiro Arnav Kapur, as máquinas vão ficar tão pequenas que vão sumir em nossos próprios corpos.
Kapur, 24 anos, é o engenheiro-chefe do AlterEgo, um dispositivo de inteligência artificial que funciona atrás da orelha, como um adesivo transparente. O aparelho é capaz de traduzir para comandos de computador os sinais de fala interna do usuário, sem a necessidade de usar a voz.
O estudante do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT) fez uma demonstração da novidade no TED, evento de tecnologia, entretenimento e design que acontece nesta semana em Vancouver. "Queria fazer com que computação, inteligência artificial e internet fizessem parte de nós, parte da cognição humana", disse Kapur.
Pela primeira vez, o engenheiro apresentou o mais recente protótipo do AlterEgo, bastante discreto no pescoço de um assistente de palco. A versão anterior era um aparelho maior acoplado no rosto do usuário, quase como um telefone.
O dispositivo parece ler os pensamentos do usuário, mas Kapur explica que não é bem assim. O AlterEgo consegue ler os sinais neurais dos músculos do rosto e das cordas vocais que ativamos quando estamos deliberadamente falando sozinhos, ainda que sem abrir a boca ou mesmo mexer o rosto.
"Os sensores do dispositivo pegam esses sinais internos da cavidade profunda da boca, e o programa de inteligência artificial os traduz e alimenta de volta a resposta via condução óssea para o ouvido do usuário", explicou Kapur.
Na demonstração ao vivo, ele fez uma pergunta ao seu assistente de palco que, sem se mexer, repetiu a pergunta internamente. Uma tela mostrava como o dispositivo estava traduzindo a pergunta palavra por palavra. "Como está o tempo em Vancouver?"
Em alguns segundos, o assistente respondeu: "Está 15 graus aqui em Vancouver."
Kapur vislumbra inúmeras utilidades para o AlterEgo, como capacidade de decorar textos, procurar informações, fazer cálculos que só computadores conseguem, realizar traduções simultâneas, trocar mensagens em silêncio e, claro, ajudar milhares de pessoas que sofrem com problemas de fala.
Ao final da demonstração, até a apresentadora do TED se mostrou desconfortável com a nova tecnologia: "É incrível, inovadora, e assustadora [...] Daqui a cinco anos, isso não poderia ser transformado numa arma?"
Kapur respondeu: "Queríamos pensar em design. E mudamos o design. Em vez de ler diretamente do cérebro, o dispositivo lê do sistema neural voluntário, o qual você precisa deliberadamente ativar para se comunicar", disse. "Ele não grava ou lê pensamentos."
"O objetivo é que a tecnologia suma completamente. Se você está usando, eu não deveria ser capaz de vê-la", continuou o engenheiro, que começou a trabalhar na tecnologia em 2017. "Você não quer um aparelho na sua cara. No momento, é um adesivo cor de pele, mas queremos fazer uma versão menor ainda." Folhapress