... E porque o aprendiz perguntasse ao Mestre o motivo pelo qual fora chamado ao seu campo de ação, respondeu o Senhor, compassivamente: –
– “Decerto, não foste convidado a criticar, porque, para isso, a Terra dispõe daqueles que transitam entre a malícia e o azedume...
Com certeza não foste trazido à Revelação para apedrejar o próximo infeliz, porquanto, para esse fim, a crueldade ainda campeia no mundo, usando corações cristalizados na indiferença...
Indiscutivelmente, não foste citado para fortalecer a ingratidão e a calúnia, de vez que para estendê-las a Humanidade ainda conta com milhares de criaturas entregues à leviandade e à maledicência...
Sem dúvida, não foste convocado para descobrir as cicatrizes e as chagas de nossos irmãos, porque, para esse mister, possuímos a legião daqueles que se imobilizam na procura do mal...
Chamei-te para abençoar onde outros amaldiçoam, para justificar onde muitos reprovam e condenam...
Busquei-te para auxiliar com a boa palavra onde o verbo envenenado espalha fogo e fel, convidei-te para o socorro aos ausentes, necessitados de entendimento e compreensão...
Trouxe-te à verdade para que as feridas de nossos semelhantes encontrem bálsamo e para que a doença deles receba em ti remédio salutar...
Concitei-te para que haja fraternidade onde a separação ainda persista, para que a paciência brilhe contigo onde brade a revolta e para que a esperança não se apague onde corre, desapiedado, o sopro frio do desânimo...
Ninguém te chamou para avivar entre os homens o incêndio da perversidade, do egoísmo, da violência e do ódio, mas sim para que a Bondade Infinita do Céu em ti encontre justo sustentáculo para exprimir-se no mundo com o esplendor que lhe é própria.
Se aspiras, portanto, a condição de escolhido para a Vitória com as Leis Divinas, abandona as exigências do espírito de domínio que, porventura, ainda vibrem por dentro de ti...
E, fiel aos compromissos que abraçaste no Evangelho Renovador, sentirás na intimidade do coração a felicidade suprema do amigo fraternal que acende em si próprio o fulgor da luz celeste...”
Foi então que o aprendiz penetrou o santuário de si mesmo e passou a meditar... Emmanuel / Chico Xavier