Blogs e Colunas

Democratização da Informação: mito ou realidade?

26 de Março de 2017 às 03h20

“O maior paradoxo da atualidade é que vivemos num mundo inundado de informação, mas sedento de conhecimento.”

Essa afirmação foi atribuída a Jack Welch, presidente da General Electric. Ela incita-nos a refletir sobre a nossa situação na sociedade pós-moderna, na qual o denominado setor quaternário ganha espaço.

Após a clássica estruturação da economia nos setores primário, secundário e terciário, decorrente dos estudos do economista inglês Colin Clark (1905-1989), precisamos admitir que novo setor econômico desponta no cenário nacional e internacional, revolucionando conceitos e paradigmas. A ciência, a tecnologia e a informação são as responsáveis pelas grandes e céleres transformações sociais, econômicas, artísticas e culturais dos últimos tempos.

Foram necessários dezenove séculos de preparação para se chegar ao apogeu do progresso conquistado no “maravilhoso século XX”. Transporte, comunicação, indústria, serviços, globalização, tudo parece apontar para um orbe sem fronteiras, cujas barreiras são superadas pela potência da telecomunicação, que influencia diretamente as áreas de negócio de todo o mundo. Os avanços são patentes e indiscutíveis.

A globalização da economia trouxe inúmeros benefícios ao desenvolvimento dos povos de todo o planeta. A perspectiva visionária do sociólogo canadense Marshall McLhuan (1911-1980), que já na década de 1950 afirmava ser o mundo uma aldeia global, pode ser vista nitidamente com a evolução das tecnologias de informação e comunicação.

A teoria do caos, também conhecida como “efeito borboleta”, assevera que uma ocorrência em determinada parte do mundo tem efeitos em escala global. As mais recentes catástrofes na Ásia e a crise econômica na Europa confirmam a assertiva. Há uma interdependência nas relações sociais e econômicas entre as nações, apontando para a necessidade de se enxergar que nada ocorre isoladamente e ficará adstrito a uma localidade.

A globalização, por outro lado, revelou as enormes diferenças existentes entre as diversas realidades e transpareceu as injustas desigualdades ainda prevalecentes em boa parte dos mais de 200 países existentes no mundo. Principalmente, em territórios do continente africano e da América Central, classificados como países de terceiro mundo, onde o índice de pobreza encontra-se abaixo da média admissível para a dignidade humana.

Até que ponto, então, podemos afirmar que o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico garante a justa oferta de oportunidades? A questão elementar do direito ao acesso à informação, por exemplo, pode ser considerada resolvida? A democratização da informação é um fato ou apenas uma ilusão?

As perguntas são complexas, exigindo ampla análise para que os esclarecimentos sejam realizados a contento. Gostaríamos que as respostas fossem afirmativas, mas infelizmente, ao menos por ora, elas tendem a ser negativas.

Sumariamente, afirma-se que o progresso é constante e irreversível, mesmo que sob abordagem sociológica a realidade aponte a necessidade de urgentes providências para a resolução de problemas fundamentais, quando parcela da humanidade ainda não consegue atender sequer aos requisitos básicos definidos pelo psicólogo americano Abraham Maslow (1908-1970) em sua conhecida pirâmide da hierarquia de necessidades humanas.

A palavra informação, etimologicamente do latim informatio, onis (delinear, conceber ideia), é definida sob vários ângulos. Houaiss elenca dezoito concepções em seu dicionário eletrônico. Na Wikipédia, o conceito de informação é, de modo geral, relacionado às noções de restrição, comunicação, controle, dados, forma, instrução, conhecimento, significado, estímulo, padrão, percepção.

Já o vocábulo democracia originou-se na antiga Grécia (demo=povo e kracia=governo). É uma forma de governo do povo e para o povo. O termo vincula-se aos conceitos de cidadania, liberdade, livre-arbítrio, livre manifestação popular, vontade do povo.

Quando se adota a expressão “democratização da informação”, pretende-se entender a disponibilização e o livre acesso às mínimas condições de existência que permitam ao indivíduo construir a sua própria vida, como resultado do esforço e da conquista pelo seu trabalho digno e honesto. O cidadão é capaz de discernir, refletir, opinar, escolher, decidir com conhecimento de causa, sabendo o porquê de se fazer assim ou diferentemente e adquirindo condições para assumir as responsabilidades sobre as consequências decorrentes de suas decisões.

Quando se diminui o grau de incerteza, o indivíduo sente-se mais seguro. É exatamente essa a finalidade da informação: dar sentido à vida e significado às coisas. Não há, dessa forma, como dissociar informação de significado. A pessoa apenas se torna cidadã quando ela tem condições de fazer livremente as suas escolhas e trilhar o seu caminho pelas opções adotadas. A vida ganha sentido, pois é necessário não só sobreviver, mas viver bem e feliz.

É nessa concepção que o termo informação se aproxima do conceito de conhecimento. Não adianta apenas a informação, é preciso ir além.

Vivemos em um mundo movido à velocidade. Tudo é muito rápido e, cada vez mais, os acontecimentos se dão celeremente. A atualidade é marcada por uma síndrome que se poderia ironicamente denominar com a sigla SEI – a Síndrome do Excesso de Informação –, que nos afugenta a uma correria desenfreada para buscas constantes e insatisfatórias de obter mais e mais, como se abrigássemos em nossa intimidade um “poço sem fundo” que nunca se logra satisfeito com as fugazes conquistas ofertadas pela era pós-moderna, ora em curso.

Queremos mais, desejamos mais, e o mundo está aparentemente pronto para nos oferecer cada vez mais, numa insanidade quase incontrolável.

É preciso dar uma pausa, rebobinar o filme da nossa história, ou, randomicamente, acessar o conteúdo informacional e a ocorrência fática que possam ter originado o que hoje praticamente não conseguimos suportar.

Para além da informação, que nos oferta o significado, é indispensável o conhecimento, que promove a interpretação. Entender o sentido de tudo e conseguir interpretar a realidade pode “abrir as portas” aos mais adequados caminhos da felicidade geral.

Mesmo que as diferenças perdurem, posto que naturais, a igualdade de oportunidades desde a formação de base na educação fundamental gradativamente propiciará a concretização de uma sociedade melhor, em que as diferenças socioculturais e religiosas sejam respeitadas e na qual todos tenham condições de viver digna e plenamente.

Para que isso efetivamente ocorra, é necessário dar o primeiro passo: fazer que a democratização da informação deixe de ser um mito e se torne, em definitivo, uma realidade.