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Pessoas invisíveis e a caridade moral

25 de Agosto de 2018 às 22h25

Elen de Souza - Feminismo e Espiritismo @feminismo.espiritismo

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Uma pessoa muito próxima, a quem eu tenho um carinho imensurável, veio nessa encarnação com a difícil missão de conviver com a esquizofrenia, um transtorno psiquiátrico bastante complexo caracterizado por uma alteração cerebral que dificulta o discernimento entre a realidade e a ficção.

Conversas fantasiosas, palavras desconexas, pessoas que nem sabemos se realmente existem...é neste mundo que meu amado irmão de criação vive. É de lá que ele se comunica, de lá que nos confunde com suas alucinações. Mas mesmo perdido entre esses universos paralelos de realidades deturpadas ele encontra um espaço para me colocar. Ano após ano, mesmo com o agravamento da doença, a pessoa que eu fui e sou em sua vida continua lá. Habito nesses mundos desde o tempo em que ainda o carregava no colo.

Recentemente saímos para tomar um café. Naquela manhã embarquei em seus  devaneios, estive junto nos lapsos de realidade e rimos bastante como sempre. No final, tiramos a tradicional foto para as redes sociais. Foi então, que recebi seu agradecimento que dizia mais ou menos assim “ Obrigado por me dar atenção, eu estava precisando disso. Você é demais”.

Durante  muito tempo eu me cobrei por não ter recursos financeiros para ofertá-lo um tratamento mais adequado ou uma melhor qualidade de vida que o dinheiro pode oferecer. Mas no instante em que eu li aquele agradecimento eu tive a percepção de como possuímos um bem tão valioso que não custa nada em compartilhar: o tempo.

Nesse momento eu comecei a refletir e percebi que muitas pessoas o que mais precisam é o tempo e um pouco de atenção. Existem alguns grupos de pessoas que se tornam invisíveis na sociedade.

Muitas vezes fechamos os olhos, tapamos os ouvidos e simplesmente seguimos nossas vidas sem se importar com outras vidas que se destoam das convenções sociais .Idosos, portadores de distúrbios mentais, pessoas em situação de rua, são apenas alguns exemplos que englobam esse quadro da invisibilidade.

Mas ler aquelas palavras de agradecimento que não se referia ao passeio, ao local escolhido e nem a deliciosa torta que saboreamos naquela manhã cinzenta, me fez refletir sobre a importância da caridade moral e como nós podemos - e devemos - ser caridosos com nossos semelhantes, principalmente aqueles que clamam por um pouco de atenção.

Em o Livro dos Espíritos na questão  886 encontramos a seguinte pergunta:. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade?

“Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.”

Seja grato por ter a oportunidade em ajudar o próximo, poderia ser você na situação que ele se encontra. Poderia ser você sozinho em uma casa de repouso, vivendo pelas ruas ou preso em um mundo imaginário. Poderia ser você desejando em seu íntimo uma palavra amiga, uma boa conversa, um abraço ou outros singelos gestos de afeto e atenção. Então, seja benevolente!

Podemos praticar a caridade moral  com pequenas ações:

Saber ouvir, as vezes o outro só precisa de alguém que o escute

Se despir dos julgamentos

Ofertar um ombro amigo nas horas difíceis

Dar um abraço sincero e ofertar um sorriso

Doar tempo e atenção

Todos somos capazes de ser caridosos, basta que tenhamos boa vontade em nossos corações. E como disse Kardec “ Fora da caridade não há salvação”. Então, bora colocar em prática essa máxima da doutrina?