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O antídoto da contenção

08 de Abril de 2019 às 15h30

A primeira coisa, então (...) é cultivar uma disciplina interior. (...), porém, é importante reconhecer que não basta suprimir nossas emoções e pensamentos negativos para refrear a reação a eles: é indispensável decifrar a sua natureza destrutiva. Ouvir dizer que a inveja, uma emoção muito poderosa e destrutiva, é negativa não basta para desenvolvermos uma forte defesa contra ela. Se organizarmos nossa vida externamente, mas ignorarmos sua dimensão interior, será inevitável cresçam as dúvidas, ansiedades e outras aflições, e a felicidade nos escape ¹

O homem deve trabalhar-se intensamente a fim de que seu estado de espírito não seja determinado pelas emoções, principalmente, as negativas que costumam assaltar-lhe a vida íntima.

Por isso, a prática de contenção apresentada pelo Dalai Lama no livro “Uma ética para o novo milênio” ensina a disciplina dos sentimentos, de vez que por meio dela nos tornamos capazes de amenizar, quando não, extinguir as dores nascidas do desespero, da desesperança filhas do sentimento que se nos vai por dentro, superveniente de nefasta invigilância.

Temos de aprender a utilizar o antídoto da compreensão contra estas ladras de nossa paz do coração, acionando o diálogo interior para que o entendimento faça luz em nossos caminhos medicando as enfermidades da alma.

Insta saber entender a necessidade de “viver o presente”, pois, muitas de nossas tristezas, angústias e inquietações são provenientes do sentimento de perda daquilo que consideramos em algum momento passado como sendo bens.

Mudanças e transformações inevitáveis ocorrem no caminho da vida de todos - por exemplo -, ninguém no mundo consegue barrar o passo biológico de envelhecimento, estamos e sempre estivemos debaixo do determinismo orgânico.Na esfera das questões concernentes à alma também é assim.

Eis porque o exercício de aceitação é parte importante na solução a todos os problemas que afligem nosso espírito, de vez que nem sempre estão sob nosso poder controlá-los para arredá-los de nossa estrada.

Impõe-se, então, o imperativo do autocontrole, mormente nas situações externas sobre as quais não podemos arbitrar. E a prática de contenção com a devida vigilância de nossos pensamentos aliada à atenção a nossas atitudes frente à vida e aos outros, desencadeará em nós a capacidade de receber seja o que seja em nosso percurso existencial – agora -, como sendo sempre o melhor para nós.

¹Dalai Lama. Uma ética para o novo milênio, pags. 94-95.