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Como Entender o Resgate de Vidas Passadas

25 de Março de 2019 às 00h00

Um dos princípios da Doutrina Espírita é reencarnação do espírito, que com experiências de várias existências, tem a possibilidade de se elevar moralmente. E para cada uma destas existências, há o livre arbítrio, cabendo ao espírito discernir sobre o melhor caminho a seguir. Muitos espíritos retornam à Terra com intuito de cumprir uma missão, auxiliando um ente querido na caminhada terrena. Já outros, retornam para o que chamamos de resgate de vidas passadas.

Através do Espiritismo, tomando-o como consolador, é possível entender o por quê de tantos sofrimentos atribuídos a pessoas que aparentemente não merecem a atual situação. Mas Deus, em sua infinita bondade, não beneficia somente a uma parcela de pessoas e muito menos aplica castigos. Ele permite que o espírito, após ultrapassar o véu do esquecimento, tenha consciência de seus próprios atos e o quanto estes prejudicaram ao seu próximo. E utilizando o livre arbítrio, permite que este espírito, tocado pelo arrependimento, resgate seus erros da melhor forma que lhe é cabível. É como diz o velho ditado: “Deus não dá a cruz mais pesada do que seus ombros possam carregar.”

O resgate é obrigatório para todos os espíritos?

Quando contraímos uma dívida, temos a obrigação de honrar com seu pagamento, não é? No caso dos resgates de vidas passadas, eles são aplicados aos que necessitam quitar suas dívidas, seja com alguém do passado ou consigo mesmo. Quando encarnamos, temos o esquecimento de tudo que vivemos anteriormente, como uma oportunidade de começar de novo e fazer diferente. Alguns sentimentos ainda podem estar latentes, como uma afinidade muito grande por alguém que acabamos de conhecer ou sentimentos negativos que nutrimos por pessoas que mal conhecemos. Estes são resquícios do passado, que mesmo com o esquecimento, criam impressões de situações e convivências já vividas.



Nos casos dos resgastes, muitas das aflições vividas por alguns espíritos lhe são impostas a pedido deles mesmo, uma vez que o remorso e a auto decepção pelos atos que prejudicaram alguém, levam este espírito a solicitar a reencarnação atribuída de algum sofrimento físico ou em âmbitos emocionais. Infelizmente, ao chegarem na Terra, muitos são tomados novamente pelos mesmos sentimentos que lhe causaram dívidas, contraindo novos débitos. Já outros, cumprem seu resgate de maneira tão serena que muitas vezes têm seus débitos diminuídos. No livro de crônicas espíritas “A Vida Escreve” de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, existe um pequeno conto que chama “O Merecimento”, e é bastante esclarecedor neste sentido. Em resumo é o caso de um homem muito bondoso que sofre um acidente de trabalho e perde o dedo polegar. Em meio a revolta e tristeza pelo acontecido, em uma reunião na Casa Espírita é revelado que em outra vida, este homem foi um senhor de engenho que, propositalmente, amputou o braço de um escravo no moinho. Em arrependimento, ele pediu para que perdesse um braço na vida atual, mas devido à sua conduta de bondade e compaixão para o próximo, além da prática da caridade, foi-lhe dado a oportunidade de perder somente um dedo, que não o deixaria deficiente, mas representaria sua dívida quitada. Vale a pena conferir este conto.

Resgaste são equivalentes a punições?

Ao contrário do que muitos interpretam, resgastes, como o próprio nome sugere, são oportunidades de sanar débitos, adquirir conhecimentos, deixar para traz vícios e sentimentos destrutivos e poder evoluir. É importante lembrar que todos os sofrimentos são adquiridos pelo próprio indivíduo através do livre arbítrio e a responsabilidade de reparar os erros cometidos também pertencem a ele. Aceitar os resgates com parcimônia e buscar entender a causa dos sofrimentos atuais são caminhos importantes para uma existência mais serena e equilibrada. Quando Jesus disse “bem-aventurados os aflitos, pois é deles o reino dos céus”, era justamente uma referência à aceitação e compreensão de que os sofrimentos vividos hoje são resgates para a conquista da paz e evolução moral. Afinal, como está descrito no Capítulo 5-20 do Evangelho Segundo o Espiritismo, “A felicidade não é deste mundo”.

Se olharmos estes resgates pela ótica da Doutrina Espírita, podemos compreender que Deus não é injusto em nenhum momento e a cada um é destinado aquilo que está de acordo com seu merecimento. Mas não devemos utilizar desta premissa para negligenciar nossos irmãos sofredores. Lembremos que a caridade e o amor ao próximo são virtudes e que também são meios de evolução. As vezes temos que tomar Simão, o Cirineu, como exemplo e auxiliar nosso irmão em sofrimento a carregar sua cruz. Sejamos bálsamo para o alívio alheio. Letra Espírita