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Carência afetiva e impulso sexual

21 de Junho de 2018 às 12h50

Jean Paul @umgayespirita

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    Carência afetiva, segundo a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional, é resultado da ausência ou do excesso de afeto, real ou interpretado na infância perante um fato traumático, nas relações primárias. Unindo-se ao vazio interior que a carência denota está a pressão da sociedade contemporânea que dita estar no relacionamento amoroso, digno de contos de fadas, o manancial de felicidade. Ainda, a coletividade, após mais de mil anos de repressão sexual, vive atualmente a liberdade do sexo e convenciona que, estando-se solteiro, a busca pelo sexo periférico deve ser incessante e acabamos nos entregando Às orgias de culpa e autoflagelações psíquicas. A conjunção da carência afetiva com o impulso sexual desequilibrado torna-se, então, geradora de distúrbios destrutivos.

    O impulso sexual nada mais é que a energia criadora (libido) capaz de grandes prodígios e feitos em todas as expressões da Humanidade. Esta energia se desenvolve do átomo ao arcanjo, segundo Gibson Bastos, no livro “Além do Rosa e do Azul – Recortes Terapêuticos sobre Homossexualidade à Luz da Doutrina Espírita”. No reino mineral, a libido garante a interação atômica; no vegetal, estabelece a polarização ativa-passiva; no reino animal, se expressa morfológica e fisiologicamente aliando-se ao instinto; no hominal, une-se à razão, ao sentimento e à noção de moral. À medida que o ser evolui, este impulso se sublima.

    Devemos, contudo, estabelecer de forma clara que a sublimação do impulso sexual não determina castidade, celibato absoluto. Conforme esclarece o espírito Eugênia-Aspásia, através da mediunidade de Benjamin Franklin, “o desequilíbrio tanto pode estar no excesso, quanto na supressão de instintos, que assim passam a agir destrutivamente, em plano subliminar, engendrando psicopatologias complexas. O “assassínio” da libido pode ser refletido na tendência à depressão, bem como em fortes estados mórbidos de angústia e de amargura, inveja e ciúme, ganância desmedida ou ambição desenfreada. Irritabilidade exacerbada pode indicar, por outro lado, o extremo oposto do espectro, com pessoas excessivamente ativadas em seus aspectos instintuais, esgotadas com abusos da energia animal.” O caminho, portanto, está no equilíbrio instinto-razão. Sublimação do impulso sexual, assim, não significa abstinência do ato sexual, mas sua manifestação responsável. No trecho da canção “Duplo Eterno”, de Tim e Vanessa, a expressão sexual sadia é estabelecida: “Sejamos um / Na tradução do Amor Maior que vibra em nós / Com confiança e respeito / Pelo dom que Deus nos deu / De sentir a vida com prazer / Na comunhão dos corpos / Quando a mente é sã”.

    Segundo Joanna de Ângelis, no texto “Tentações Afetivas”, no livro “Vigilância”, psicografado por Divaldo Pereira Franco, “ninguém há, que se encontre, na Terra, completo e realizado”, estabelecendo, assim, que somos todos carentes em algum nível. Entretanto, a carência afetiva, se não cuidada, nos conduz aos distúrbios psíquicos e sexuais, porque a “ansiedade por encontrar quem te compreenda e apoie, oferecendo-te segurança integral, empurra-te para os precipícios dos vícios dissolventes”. O carente é um eterno insatisfeito, quanto mais recebe, mais exige, porque o ego demanda sempre a satisfação de seus caprichos, tornando-se a origem de todas as nossas aflições. A terapêutica está no trabalho, como estabelece a benfeitora espiritual: “Se desejas o amor de plenitude, canaliza as tuas forças para a caridade, transformando as tuas ansiedades em bem-estar noutros muito mais necessitados do que tu”.

    Entendendo o trabalho como amor em movimento, estabelecemo-lo como renúncia de nós mesmos para nos tornarmos úteis para alguém. Desde tarefas mais simples às mais sofisticadas e de maior importância, manter nossas mãos ocupadas nos auxilia a disciplinar a mente, que é a própria manifestação do espírito: pensamento, sentimento e vontade são os meios pelos quais nos expressamos enquanto espíritos encarnados ou desencarnados. Tudo provém do espírito. Por isso, disciplinemos nossa manifestação de vida diária através da tarefa útil em favor de alguém, porque conforme nos orienta Maria Ângela, mentora espiritual deste que vos escreve, “se estivesses enxugando as lágrimas de outrem, não estarias chorando as tuas”.

    Entendamos que o sexo periférico não nos trará a completude que buscamos. Para ser completo é preciso mergulhar em si mesmo, buscar o silêncio interior para despertar a consciência de que a fonte da felicidade jorra de dentro para fora. Ninguém é capaz de nos fazer felizes, senão nós mesmos. Para Joanna, “carência de hoje, foi desperdício de ontem”, não desperdicemos, então, a oportunidade de darmos afeto hoje, pois amanhã, de origens sublimes, receberemos toda atenção de que precisamos. Há mais amores que o romântico.

 

Por Jean Paul

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REFERÊNCIAS

http://www.oespiritismo.com.br/mensagens/ver.php?id1=221 acessado em 20/06/2018 às 10h05.

http://www.sbie.com.br/o-que-e-carencia-afetiva-e-como-tratar/ acessado em 20/06/2018 às 10h30.

http://www.saltoquantico.com.br/2006/04/19/dialogo-sobre-atividade-sexual/ acessado em 20/06/2018 às 11h15.

https://www.cifraclub.com.br/tim-vanessa/duplo-eterno/ acessado em 20/06/2018 às 11h25.