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O legado de 2019 para nós espiritas...

08 de Dezembro de 2019 às 16h05

Aproximamo-nos dos momentos finais deste que, certamente, não foi um dos anos mais fáceis e abundantes de nossas vidas. E assim parece ter sido a década que ele encerra. Uma época tumultuada, marcada por uma onda crescente de conflitos dos mais variados e, sobretudo, nos campos político e ideológico que, ao se entrecruzarem, provocaram e, ao que parece, permanecem provocando efeitos devastadores por toda a parte. Seja no âmbito individual e, sobretudo, no coletivo, testemunhamos esses tais efeitos advindos, principalmente, desta que podemos destacar como a maior e mais agressiva onda de polarização político-ideológica já vivenciada no nosso país e que desagregou, fragmentou, dividiu os indivíduos, compondo uma psicosfera altamente tóxica e nociva à alma humana e, por conseguinte, à sociedade.

Um fenômeno regido pela disseminação de sentimentos destrutivos como o ódio seletivo, a intolerância e o desrespeito, e que vimos se infiltrar em todas as espécies de agremiações sociais, provocando dissensões entre os seus membros. Foi assim nos núcleos familiares, religiosos, grupos de amigos, de trabalho e demais outros. Uma experiência que nos fez ver o quão frágil ainda é a nossa condição moral, espiritual, mas, sobretudo, o quão invigilantes ainda somos, diante do mal e suas ardilosas e inteligentes estratégias de ação. E essa onda tenebrosa não poupou nem mesmo os espíritas que se autoproclamam os trabalhadores da última hora, representantes do Cristianismo redivivo. Aqueles de quem, levando em consideração a profundidade da mensagem de que se asseveram portadores, esperava-se uma postura diferenciada diante desse quadro psicoespiritual devastador.

Ao contrário disto, o que se viu foram espíritas se desentendendo, trocando farpas entre si, se subdividindo em alas antagônicas (progressistas x conservadores), e o pior, a emissão de declarações pessoais profundamente inadequadas, advindas de alguns dos grandes líderes do Movimento Espírita Brasileiro. Algo que comprometeu, ainda mais, aquilo que há tempos tem sido um dos desafios maiores e bandeira de luta do Movimento Espírita Brasileiro: o esforço pela união e unificação dos que compõem o corpo de representantes oficiais das entidades espíritas espalhadas por todo o país. Um esforço que, como ficou evidente, para muito além do antigo problema das disputas internas de poder na esfera institucional, tem como meta maior a superação no plano moral, dos sentimentos mais primitivos e hostis que, infelizmente, permanecem maculando a marcha do progresso individual e coletivo da humanidade.

Diante desse cenário turbulento e um tanto desanimador, resta-nos depositar na esperança, esse sentimento que parece-nos cada vez mais caro e imprescindível, a crença em dias melhores. Por um ano que se faça efetivamente novo e que, nele, renovemos nossas forças e acima de tudo a fé, já que, como nos fazem ver os nossos instrutores espirituais, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a fé é a mãe da esperança e da caridade. Mas não a fé humana, presunçosa e hesitante que a grande maioria de nós temos alimentado, e sim a fé divina, sincera e robusta de que nos falam nossos irmãos benfeitores, única capaz de nos colocar acima da condição humana ainda tão precária e limitada. Eis o santo remédio para a efetiva superação desse quadro desolador.

Guardemos, portanto, no nosso íntimo, as sagradas considerações de Santo Agostinho contidas no Cap. V do Evangelho, a nos dizer:“Não nos pergunteis, portanto, qual o remédio para curar tal úlcera ou tal chaga, para tal tentação ou tal prova. Lembrai-vos de que aquele que crê é forte pelo remédio da fé e que aquele que duvida um instante da sua eficácia é imediatamente punido, porque logo sente as pungitivas angústias da aflição".