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Carta para Fillipe

16 de Julho de 2018 às 21h50

Quero compartilhar com vocês um texto que escrevi para meu filho Fillipe que desencarnou em 13/5/12. Escrevo todo dia 13 de cada mês desde que ele partiu.

Muitas pessoas nos falam dos benefícios que esses textos em forma de cartas fizeram em suas vidas por se identificarem com algumas situações relatadas por mim.

Esta foi a última carta do dia 13/7/18

Filho.

Às vezes me deparo com textos interessantes, o mais recente foi da cartilha Lidando com o luto por meio do suicídio da autora; profa. Dra. Kelly Graziani Giacchero Vedana, retirei um trecho dele.

“Por maior que sua dor seja nesse momento, e por mais que possa ser difícil acreditar, a tendência é que sua dor se torne menor e mais suportável... Esse acontecimento não será apagado da sua vida, mas você pode dar um significado novo a essa experiência e prosseguir com sua vida”.

 Ela tem razão, mas quando estamos no ápice da nossa dor não acreditamos neste texto e em nenhum que venha de encontro a tudo que a gente acredita naquele momento que é, por exemplo; eu não vou conseguir continuar vivendo. Bom, estou lembrando que passei por varias fases do luto, pois é o luto tem fases, tempo e tudo mais. Falo sempre que devemos vive-las, sem medo dos julgamentos. Podemos falar assim; quem quiser me julgar que calce minhas sandálias. Ninguém quer perder um filho, mas adora julgar. Ah, eu não estou julgando, alguns dizem, não? E quando uma pessoa fala; você já passou tempo demais triste, só porque a pessoa está de luto há seis meses ou sete ou não importa o tempo, O que é isso?

Sabe filho, parece que estou com a agulha quebrada porque sempre retorno ao mesmo assunto, não é? Mas você sabe por que faço isso. Muitas situações eu não vivi, mas como hoje fazemos parte de um grupo de apoio a pessoas enlutadas, a gente escuta de tudo e um pouco mais. Então fico na preocupação de esclarecer as pessoas que mesmo com as melhores das intenções tenham cuidado com as palavras, elas muitas vezes machucam, a pessoa pode pensar o quiser, mas é bom pensar um pouco antes de expressar esses pensamentos ou talvez se colocar no lugar do próximo, isso ajuda um bocado.

         Querido da minha vida, a saudade continua firme e forte, fazer o que? Engraçado que olhar para você nas fotos era mais fácil antes do que agora, porque será? Nestes momentos fico pensando, será que é porque fico sabendo que seus amigos que são da mesma idade sua, estão realizando coisas terrenas que se você estivesse aqui poderia estar fazendo o mesmo? Como casar, por exemplo? Será que o coração apertou em saber que seu amigo de infância irá se casar no dia do seu aniversário? Sei, sei, não fique bravo comigo, a emoção foi por um momento. Você está com outras realizações. Posso até não falar, mas agora você ler meus pensamentos, então, vou liberar meus pensamentos porque não sei ficar calada, kkk. Voltando ao assunto do casamento, você com certeza já estar sabendo da data, vai ser uma mistura de emoções, irei ver aquele rapaz que acompanhei seu crescimento entrar na igreja, imaginando você ali talvez fotografando seu amigo, bom, você não estará fotografando, mas estará emitindo boas energias para ele ser feliz na nova caminhada, tenho certeza disso.

São esses pensamentos que muitos que estão de luto pensam, em situações que não viverão com seus entes queridos.

Nesse caso, sou sincera em dizer que pensei, mas eu consigo superar, pois coloco na minha cabeça não me martirizar por situações que não tenho o poder de alterar. Mas respeito os que ainda não estão nessa fase do luto, pois cada pessoa tem seu tempo, porem devemos ajudar o tempo, ele não faz nada sozinho.

Quando a Dra. Kelly fala que a pessoa pode dar um novo significado a experiência da “perda” e prosseguir com sua vida, é verdade. Com a sua partida filho, dei outro significado a minha vida, estou transmitindo a minha vivencia dessa partida para os que passam por ela ou não. Sei que cada pessoa vive seu luto individual, nenhum é igual, mas existem emoções comuns como: negação, choque, raiva, desespero, culpa, tristeza, solidão, impotência, ansiedade, sensação de estar anestesiado.

Acho muito importante reconhecer e expressar essas emoções porque fica mais fácil seguir em frente. Por isso que digo aos amigos do grupo de apoio; falem, tentem falar, no primeiro momento é difícil, mas tente, dor dividida é dor aliviada.

E aí meu filho, como anda sua velha?

Apesar da enorme saudade, eu estou indo razoavelmente bem, né?

Querido, estou indo. Vem-me dizer como faço para sonhar com você, por favor.

Com o coração apertadinho me despeço de você. Hoje dia 13 de julho, seis anos e dois meses do último xau.

Um abraço de urso.

Mamãe em 13/7/18