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Verdade, bondade, utilidade

24 de Março de 2016 às 03h00

Geraldo Campetti Sobrinho

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A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom, produzem; dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações. É de perguntar-se que proveito tiraram delas os que as escutaram.

Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé numa palavra, que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas, porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que nenhum bem para a humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a nada; que todos os homens deliberadamente inúteis, por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou (O evangelho segundo o espiritismo, cap. 19, it. 9).

*

Certa vez o conhecido filósofo Sócrates foi procurado por um jovem discípulo que lhe desejava falar. Chegou apressado, ansioso e dirigiu-se ofegante ao sábio:

– Mestre, tenho algo muito importante a lhe dizer.

E, antes que continuasse a falar, Sócrates olhou-o serenamente e perguntou-lhe:

– O que você tem a me contar é verdadeiro?

O jovem, que ainda não se habituara à reflexão, pensou um pouco, e respondeu:

– Mestre, eu não sei se é verdade, mas me disseram…

O sábio não o deixou concluir e indagou-lhe:

– O que você tem a me dizer é bom?

O jovem retrucou:

– Ah!, Mestre, com certeza, não é.

O experiente filósofo, olhando-o mais profundamente, como que a investigar-lhe a essência das intenções, questionou-lhe:

– O que você tem a me falar é útil?

E o jovem um pouco aturdido com tantos questionamentos, diz:

– Não sei, Mestre, se o que tenho a lhe falar será útil para alguém.

– Então – concluiu Sócrates – não me diga nada.

O jovem deu meia volta e afastou-se pensativo….

*

Se aplicássemos em nossas vidas a regra dos três crivos, – ou das três peneiras, como também é conhecida – sentiríamos efeitos benéficos imediatos.

Imaginemos se a aludida recomendação se estendesse para os nossos pensamentos, palavras e ações!

Ao nos submetermos aos testes da verdade, bondade e utilidade, certamente teríamos pensamentos mais equilibrados, palavras mais otimistas e comportamentos mais assertivos, tornando-nos autênticas cartas vivas do Evangelho de Jesus na Terra, conforme expressão do apóstolo Paulo.

É bem provável que falaríamos menos, sabendo o momento exato de expressar e de calar diante das situações. E utilizaríamos com sabedoria os recursos dos sentidos corporais concedidos por Deus a seus filhos, de que temos dois ouvidos e um boca, exatamente para aprendermos mais a escutar e menos a falar.

Essa regra da assertividade estende-se aos pensamentos que devem ser emitidos com qualidade, em obediência à diretriz evangélica da oração e vigilância para não cairmos em tentação.

A oração é o meio de contato com o Criador, é o instrumento diário de uma conversa íntima com Deus, é o recurso de que dispomos para nos associarmos com os seres de boa vontade, mais experientes e evoluídos, que nos auxiliam na jornada terrena.

A vigilância é o mecanismo de constante atenção quanto ao comportamento cotidiano. É preciso que cuidemos de nossos conteúdos íntimos traduzidos em pensamentos, sentimentos e ações.

A tentação é uma situação de risco a que estamos submetidos, por ainda não termos adquirido ou fortalecido determinados valores indispensáveis à ascensão espiritual. Seremos, então, tentados em nossas concupiscências, ou seja, em nossas tendências negativas.

Por isso, com inteligência, Allan Kardec registrou em O evangelho segundo o espiritismo, que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral, pelos esforços que emprega em domar as suas más inclinações.

É um embate diário a que nós, Espíritos em mediana evolução, estamos sujeitos, em decorrência das próprias necessidades de fortalecimento no bem e consequente evolução espiritual, que nos alçarão aos estágios superiores da vida imortal.

Extratos do livro Anotações espíritas, ditado por Espíritos diversos, psicografado por Divaldo Pereira Franco e organizado por Geraldo Campetti Sobrinho. Ed. FEB.