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Desafios da Inter - religiosidade

04 de Maio de 2016 às 10h30

Quando se fala em relações inter-religiosas nos remetemos ao termo “macro- ecumenismo”, o termo ecumênico provém da palavra grega οἰκουμένη (oikouméne), que significa mundo habitado, a qual na sua essência etnológica - semântica espera-se que o respeito e aceitação mútua propiciem um encontro e compromisso comum em defesa da dignidade humana, da pobreza e fome mundial, da paz no nosso planeta, da recuperação da terra exaurida em processos históricos e da resistência ao rolo compressor do neoliberalismo. É indispensável repensar o planeta de forma coletiva, esquecer as individualidades e patriotismos, pois somos uma grande família vivendo em um pequeno planeta. 
Em 1994 uma consulta entre cristãos afro de quase todos os países das três Américas, os quais participavam de um encontro fizeram uma expressiva comparação aonde diziam que:
“O ecumenismo atual se parece com uma casa (oikos) em que há quartos fechados: alguns ficam na sala e outros ficam sempre na cozinha ou no quintal. Ele se parece com uma ‘Casa Grande”, com uma “Hacienda” que (como se sabe) sempre supõe ao lado uma “senzala”. Será que não é possível pensar uma casa para todos que seja parecida com um “quilombo”, um “terreiro” ou uma “maloca” indígena?
É pertinente observar essa dialética, comportamento individual, reflexo na sociedade. Essa é a grande mudança que devemos fazer (REFORMA ÍNTIMA), as descobertas científicas em variadas ciências, cura de patologias, avanço na farmacologia, física, medicina, química, bioquímica, robótica e demais ciências humanas nos propiciaram patamares tecnológicos inimagináveis para muitos na compreensão humana , mas reforma intima, é sem dúvida o grande desafio humano. 
Uma lenda de origem Guarani conta-nos que:
"Quando Nhanderuvuçu, nosso grande Pai, mandou acabar com a terra, devido à maldade dos homens, avisou antecipadamente Guiraypoty, o grande pajá (pajé??), e mandou que dançasse. Este obedeceu, passando toda a noite em danças rituais. Depois, seguiu-se um incêndio devastador e Guirapoty, para fugir do perigo, partiu com a família, para o leste, em direção ao mar. Chegados ao litoral, dançaram e cantaram, construindo uma casa na qual pudessem se abrigar quando chegassem as águas. Elas vieram. Apagaram o incêndio mas ameaçavam engolir Guirapoty e os seus. Ele subiu ao telhado e teve muito medo. Entoou, então, o nheengaraí, o solene canto do povo guarani. Quando estavam para serem tragados pelas águas, a casa se moveu, gitou, flutuou, subiu, subiu até chegar à porta do céu, onde eles ficaram morando. O lugar para onde eles foram levados se chama Yvi marã ei (a “terra sem males”). Aí as plantas nascem por si próprias, a mandioca já vem transformada em farinha e a caça chega já abatida aos pés dos caçadores. As pessoas nesse lugar não envelhecem e nem morrem e aí não há sofrimento”.
Iremos caminhar juntos para uma terra sem males, esse é o destino humano, só que para isso precisamos romper nossas prisões com o passado, relembrar a história, ver nossos erros coletivos e individuais, fazer a tão sonhada reforma íntima, e é nesse contexto que se encontra a ajuda das religiões. É por isso que precisamos nos unir, dialogar, vivenciar, e sentir a humanidade. O sofrimento humano é necessário, mas podemos amenizá-lo, ou extingui-lo no futuro, tudo depende de você, de mim de nós. Olhando para o nosso passado, vemos os compromissos e os percursos de sofrimento que a espécie humana traçou ao logo dos séculos. Impomos nosso “jeito animal”, assim como dizia Aristóteles: “o homem é um animal racional”, partimos do mais bruto, para o mais delicado e sensível, essa é nossa evolução. Como nos mostra a história, o humano durante o seu percurso, travou lutas desnecessárias devido à ignorância moral alcançada, períodos sóbrios tivemos na humanidade, não falo de idade media em si, mas de tormentos coletivos que causamos uns aos outros, tivemos escravidão no mundo antigo, servidão, disputas de poder, epidemias que varreram a humanidade com o cheiro da morte, guerras e mais guerras, a intolerância religiosa levou muitos ao desfecho físico, o mundo viu a miséria, viu o homem achar que outro homem não era humano devido a sua cor, e assim nos dizia Albert Einstein, “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”, A terra viu pessoas matarem seus irmãos, destruir suas famílias, viu o império Romano, viu o seu fim, viu a expansão nos seus mares no séc. XVI, viu navios afundarem, viu outros descobrirem suas terras e matas. A terra viu a ciência humana, seu processo destruidor, viu o humano poluir, desmatar, destruir e reconfigurar o planeta. A nossa terra viu a primeira, a segunda e ainda bem que não queremos ver uma terceira guerra mundial, pois diferente de antes, conhecemos as partículas subatômicas, as potencias mundiais nos declaram que poderiam destruí 80 vezes nosso planeta terra, isso pelo o arsenal nuclear que os mesmo detêm, não sabemos o que não é declarado. 
Não é só um compromisso com o planeta, mas sim com o cosmo, com a multiplicidade do infinito do universo. Um combate atômico mundial geraria não só consequência para o nosso planeta terra, mas para o cosmo como um todo, pois estamos ligados a ele e ele a nós. Diante da maldade humana, surgem conquistas maravilhosas que nos levam ao alivio dos sofrimentos físicos, tivemos avanço no campo do direito desde a Grécia, a Europa nos deu o renascimento, o racionalismo e iluminismo, fizemos tratados sobre a paz, começamos no ultimo séc. XX, a combater o processo de inculturação religiosa, temos tentado o dialogo entre as religiões, melhoramos alguns aspectos da qualidade de vida humana, as religiões que antes se mantinham distantes, hoje em dia tentam se aproximarem, pois o objetivo de todas é o bem comum e chegaremos lá.
“O vento sopra onde quer, você escuta o seu som, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai; assim ocorre com todos os nascidos do Espírito.” ( João 3:8)
Não importa onde estamos, nem aonde estaremos, o que importa, é o que iremos ser, como iremos nos comportar diante do humano, o que faremos para o próximo ser feliz e o que faremos para nós. Nossos pensamentos vagam como o vento, só que em uma matéria imperceptível, mas ele está lá. Assim como o som percorre o ar, nossos pensamentos percorrem um espaço, e segundo os físicos quânticos, atingimos o nosso meio físico e psíquico com essas ondas mentais, para o bem façamos o certo, pensemos no bem e sejamos bons. E não nos esqueçamos de que Jesus não fez proselitismo do cristianismo, ele nem criou uma religião, mas seguimos sua filosofia, a qual tem como lema, amor para com todos! 
Jesus lembra que a estrada é interminável e passaremos por momentos difíceis, dê um passo e continue andando, assim nos ensina o Cristo, não olhemos assustadoramente para a distância. Neste caminho deixe o coração ser o teu guia, esqueçamos nossos medos, pois do amor a alma aprende mil lições que nunca podem ser aprendidas em escolas.

Que a paz e a bondade estejam em seus corações!

                                                                                 Por: Arthur Azevedo