Queremos todos a felicidade e a paz; todavia é preciso reconhecer que a paz e a felicidade se nos levantam do íntimo. Eis porque as lições do Evangelho – desde que aceitemos Jesus por Mestre nos percutem a inteligência, a todos os instantes da vida, não porque desconheçamos a verdade, mas justamente porque não a ignoramos, já que nos achamos informados de que, para sanar débitos e desacertos, é forçoso que a nossa vontade funcione, sem o que será sempre impossível qualquer ação em nós mesmos no sentido de corrigir e de resgatar Emmanuel comentando I João, 2:21 “Não vos escrevi porque não sabeis a verdade, mas porque a sabeis” nos ensina que a verdade existe para que a vontade possa se mover em sua direção caso queira. Ou seja, de apenas se estar informado de alguma verdade não resulta necessariamente atos e comportamentos adequados a ela. De alguma forma a verdade pressupõe a liberdade... “Eu sei que é assim”, alguém poderia dizer, entretanto, só isso não basta, haja vista que depois de saber terei ainda de decidir sobre o caminho que seguirei. Por causa da liberdade existe aquela margem, aquele espaço de adesão ou afastamento, de rumo para certa direção ou de desvio para outra via. O ser humano é constitutivamente assim posto que as situações vivenciadas nunca vêm com o carimbo do que representam para o indivíduo. Uma vez presentadas caberá sempre ao indivíduo escolher seu significado, re-presentando-as a si próprio de modo a remover ou não os óbices, e os empecilhos que possam surgir. Evidentemente, há muita gente no mundo que recebe os eventos diários no caminho da vida como se fossem estanques e com sentido definido... Não obstante, é só olhar ao redor para perceber que as coisas não funcionam assim. Existe o que recebe a doença e faz dela caminho para a saúde; e há os que abusam da saúde até caírem doentes; existe muita gente que nasceu em lares que Há também aqueles outros que receberam tudo de “mão beijada” e que insistiram em não abandonar a oportunidade de por tudo a perder... Lembremo-nos do que certa vez escreveu o imperador-filósofo Marco Aurélio: As coisas, por si mesmas, param do lado de fora, sem nada saberem de si e nada manifestarem. Quem se manifesta a respeito delas? O nosso hegemonikón. Ou seja, somos nós mesmos que nos manifestamos a respeito delas. ¹Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Emmanuel. Segue-me, pg.193. ² Marco Aurélio, Meditações, IX, 15.