Se você nunca se habilitar a escolher o próprio caminho, será difícil compreender que a estrada dos outros poderá ser muito diferente da sua.
Geralmente nos envolvemos com uma explicação do mundo qualquer, ou com alguma religião, e tentamos nos acomodar às suas propostas, aos seus princípios – até libertadores em muitos casos – mas, se o ser humano segue a vida sem a percepção da própria existência não deve contar com grandes progressos em seu crescimento espiritual.
Por outro lado, filósofos afirmam que a existência é o ser do homem, que a essência humana é existência, e que existir é ser-responsável em vista da própria finitude!
Mas, se não compreendo o que é a existência como vou entender seus desdobramentos relacionados à continuidade da vida após a morte?
Quando meditamos acerca das razões de não conseguirmos seguir com nossas vidas libertos da vontade doentia de interferir na dos outros, ou quando refletimos sobre o desejo incontrolável que nos habita de determinar sem autorização, sem direito algum o que os outros têm de fazer ou não em seus próprios caminhos - a hipótese de que tudo isso tenha a ver com a incapacidade de percepção da própria existência não deve ser descartada.
Mas, Tarquínio, o fato é que a vida segue adiante na espiritualidade, de vez que não começou no berço e tampouco terminará no túmulo.
Apesar disso, afirmo que essa verdade não elimina a necessidade de percepção da existência. A bem dizer há no fundo disso tudo uma contradição extremamente sutil.
Cair em si despertando para a existência que se é, entre muitas coisas, significa: conscientizar-se da própria situação de ser-finito, conhecer por intuição a própria finitude que caracteriza essencialmente o que somos, haja vista que somente assim nos tornamos capazes de captar o teor eternal que nos constitui enquanto alma.
Para Heidegger – ao menos para o primeiro Heidegger – o ser-para-morte é a substância do ser humano. No entanto, o ser humano moderno falha em notar a existência, e apegado a tudo e a todos sonha com o prolongamento indefinido de sua permanência na terra, ou seja, abrir-se para a compreensão da existência é o que permite ao homem entrever, talvez até divisar seu ser espiritual imorredouro.