É ação do ignorante acusar os outros pelos equívocos que ele mesmo comete. É do que começou a se educar acusar-se. É do homem educado não acusar os outros nem se acusar (Manual de Epicteto, cap. V)
Há muita inquietação e desassossego no mundo que poderiam ser remediados e até extintos, se despertássemos para a necessidade do cultivo da paz em nossas vidas cotidianas.
Aquele sentimento de que o inferno diz respeito à influência dos outros em nossas vidas, talvez tivesse de ser mais bem analisado porque se “a paz nasce na mente de cada um"¹através do autodomínio, é possível que algo esteja a nos faltar, e que por isso, inconscientemente sejamos o espinheiro no trato com nossos semelhantes.
Harmonia interior não se improvisa, é conquista que inicia concomitantemente com o despertar da consciência para o cuidado de si – psicascética contínua a se perder de vista – no trabalho de auto-aprimoramento, alimpando as áreas do espírito sobrecarregadas de preocupações injustificáveis, aborrecimentos inúteis, aflições vazias e tormentos voluntários.
Quase ninguém compreende o fato de que há um afazimento por parte de muitos com um jeito de ser que expulsa o espírito da paz e atrai o da inquietação.
É como disse o filósofo desencarnado certa vez “a tensão estéril pode pouco a pouco arrojar-nos a muitas calamidades...”1
Por outro lado, se exercermos a paz em nossos relacionamentos tolhendo inquietações inúteis, contendo impulsos negativos, deixaremos de ser ladrões da paz alheia por pacificarmos nosso mundo interior.
Quanta gente habituada a ser um escolho na vida dos outros, acomodada a um modo de ser infeliz passa a vida a reclamar da incompreensão e da intolerância alheias sem perceber que é ela a vilã da história da própria existência.
A verdade é que quase todos nós ainda somos muito imaturos para perceber o óbvio: que ninguém pode gozar de uma paz que não construiu.
1 Francisco C. Xavier, companheiro, pg.74.