“E Jesus lhe disse: ‘Ninguém que lança mão do arado e olha para trás está apto para o Reino de Deus’” (Lucas, 9:62) No Evangelho segundo o Espiritismo há uma frase assim: “O espírito deve ser cultivado como um campo, toda riqueza futura depende do trabalho atual” . E nesta lição de Jesus, recolhida por Lucas, aparece a imagem do “arado” ligada imediatamente à ideia da construção do Reino de Deus. A afirmativa do Cristo corrobora a tese que expressa a noção de nossa coparticipação no processo de ascensão espiritual. Por isso, a asseveração de Lázaro nada mais faz que repercutir esse entendimento, que infelizmente não é compartilhado por todas as doutrinas cristãs. Porquanto, há os que acreditam que o homem não precise fazer nada, a não ser crer em Jesus, para obter salvação. Alinhados com a raiz etimológica da palavra “homem” (terra, húmus) entendemos que este tem de despertar para o amanho, para o cuidado de si, haja vista que todas as conquistas importantes do espírito provêm do esforço pessoal de autossuperação. É que ao longo da vida podemos se quisermos, avançar muito na espiral da autocompreensividade – caminho que nos leva ao percebimento que o “arado” se encontra em nossas mãos – posto que se nem tudo está sob nosso controle, pelo menos o trabalho na “terra de nós mesmos”, como afirma Emmanuel, não é tarefa de outros, mas, em grande parte nossa. Digo, em grande parte, porque não ignoramos que determinadas situações na estrada, na medida que nos empurram para o acostamento, nos ensinam abençoadas lições sobre a arte de viver. Daí o motivo da dinâmica de transformação – transformação verdadeira – possuir aspectos forâneos, externos, pois muitos incidentes que nos vêm de encontro nas sendas que percorremos têm por fim auxiliar-nos no roteiro de subida. É assim que aos poucos vamos aprendendo a ser mais pacientes, mais tolerantes, mais solidários, mais humanos. No entanto, nada disso se faz ou se realiza sem a adesão consciente da vontade, sem nossa cota de serviço individual no desenvolvimento em nós próprios dos valores que um dia nos permitirão o acesso às regiões sublimes onde habitam os espíritos felizes.