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Pós-Carnaval - Artigo de Divaldo Franco

15 de Março de 2017 às 16h55

Anteriormente, nos morros, silenciavam os tamborins após o último dia do Carnaval e se desenhavam as expectativas para o ano seguinte.

Agora, ao tomar as ruas, praças e avenidas das cidades, não param os trios elétricos nem os ritmos, em razão das sucessivas celebrações da festa alucinante.

Um amigo jovial, na quarta-feira de cinzas, disse-me: é o dia em que os foliões correm aos bancos, a fim de terem dimensão dos gastos, transferindo contas e tentando deter cobranças.

Do ponto de vista psicológico, parece-me que os efeitos são mais profundos e perturbadores, porquanto muitos indivíduos que se permitiram exageros estão despertando para a realidade e constatam que o Carnaval terminou, agora são outros os compromissos e responsabilidades.

Aqueles dias que se multiplicaram em razão da exorbitância do prazer deixam sinais graves e conflitos mais complexos do que a catarse daqueles que antes se apresentavam com sede de gozo, não totalmente saciada.

Distúrbios emocionais na afetividade apresentam-se, a exaustão se prolonga, as decepções e desencantos multiplicam-se, as enfermidades desgastantes aparecem e todo um cortejo de inquietações se manifesta.

Sucede que a luxúria, a promiscuidade, os excessos de qualquer natureza, por mais que sejam experienciados, mais atormentam as suas vítimas, exigindo-lhes continuidade até a perda do sentido existencial.

A vida física não é um banquete no bosque da ilusão ou na ilha da fantasia sexual, mas se trata de um compromisso com a imortalidade do ser, que se encontra em processo de desenvolvimento dos valores divinos nele ínsitos, que necessitam exteriorizar-se, a fim de proporcionar a iluminação.

Em razão disso, os valores éticos tornam-se indispensáveis para a superação dos impulsos perturbadores, decorrentes da fase animal, na qual predominam os instintos, para a correta aplicação das conquistas da lógica, da razão, do estado numinoso.

Os divertimentos e o repouso, as alegrias festivas e os programas de espairecimento têm por finalidade reabastecer o Espírito, para facilitar-lhe a aprendizagem das lições de sublimação e de conquistas transcendentes. São necessárias, mas não indispensáveis como se pensa, porquanto o próprio trabalho na sua multiplicidade de apresentação proporciona renovação íntima e prazer, alegria e mesmo felicidade que são essenciais ao bem viver.

Adaptando-se a um programa de valorização da vida, o ser humano pode passar perfeitamente bem, sem as paixões dissolventes nem os exaustivos gozos que se generalizam no dia a dia, mas principalmente nos grandes festejos dentre os quais o Carnaval é um exemplo daninho.O corpo é o veículo de que o Espírito se serve para a plenitude…

Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opin ião, em 09/03/2017