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A vaidade humana e o vazio da alma

27 de Maio de 2016 às 11h00

Conforme temos aprendido, a nossa elevação moral, esta meta primordial de todo ser que almeja o bem supremo, está atrelada diretamente ao bom combate, dentro de nós, aos sentimentos inferiores, às fragilidades da alma, que são a fonte dos nossos mais árduos sofrimentos e conflitos psíquico-emocionais e espirituais. Nesse sentido, um dos sentimentos mais danosos a essa meta e, especialmente à libertação espiritual tem sido, sem sombra de dúvidas, a vaidade humana. Eis aqui um dos inimigos mais difíceis de serem vencidos e que reina de forma absoluta neste mundo físico, efêmero e altamente ilusório a que estamos todos submetidos ao reencarnarmos, ou seja, ao mergulharmos novamente na carne para as experiências aqui na Terra, este planeta escola.

E quando dizemos difícil é porque, dentre outras coisas, ele está atrelado intrinsicamente a esse grande dilema que todos enfrentamos que é o vazio da alma, o qual se revela um campo extremamente fértil para a proliferação da vaidade. Aliás, fazendo uma breve abordagem sobre o significado etimológico e conceitual sobre este sentimento que acomete em maior ou menor grau, a grande maioria das pessoas, vemos que ele nasce justamente deste fenômeno desconcertante e que também se faz presente de modo geral na natureza humana.

Seja no idioma hebraico, que é traduzido por "hãvel", ou em latim “vanitas”, o termo vaidade tem o significado de vazio, vácuo, ou um vazio absoluto. Se recorrermos aos dicionários, veremos, dentre algumas das definições apresentadas, aquela que aponta a vaidade como um substantivo feminino que caracteriza aquilo que é vão, frívolo, fútil, tolo, que não possui conteúdo, e se baseia em aparência falsa. Portanto, se torna perceptível a conclusão de que é justamente no vazio da alma que a vaidade brota e se enraíza, provocando os mais diversos efeitos danosos à alma humana.

Eis aqui, portanto, algo muito importante sobre o qual devemos todos refletir e nos auto-analisar tendo em vista que todos nós sofremos de vazios na alma. E é isso que nos faz seres carentes, incompletos. É bem verdade que alguns mais do que outros. Mas todos, de algum modo sofremos dessa sensação de que nos falta algo. Um vazio que nos acompanha por toda a nossa existência aqui e que com o passar do tempo é que vamos nos dando conta de que, nem a família, nem um relacionamento estável, ou mesmo a religião, é capaz de preencher. Muito menos, as conquistas que tanto somos levados a almejar e cultivar por esta sociedade que vivemos, como por exemplo, uma carreira profissional bem sucedida, ou os títulos e cargos disputados. Ao contrário, ao nos deixarmos levar por essas ambições, só alimentamos cada vez mais esse vazio que se torna cada vez mais insaciável.

Isto porque a vaidade é algo em si mesmo insaciável, tendo em vista ser ela um dos efeitos mais explícitos do ego humano. E é justamente nesse buraco da alma que o ego faz morada e que tenta todo o tempo nos seduzir, fazendo-nos enganar a nós mesmos e aos outros. Precisamos nos dar conta de que o ego deseja o brilho e alma anseia por luz e, desta maneira, sairmos em busca de fazermos brilhar a nossa luz como muito bem nos orienta o evangelho de Jesus. Este que continuará sendo o maior modelo de vitória do espírito sobre o ego. Ele que ao dizer “eu venci o mundo”, nos convida e inspira-nos a encararmos e vencermos esse terrível inimigo, filho do orgulho e que, como nos esclarece o Espiritismo, é a maior de todas as chagas morais da humanidade.

Portanto, para vencermos a vaidade, esse traço característico tão presente na humanidade de modo geral e que conforme define o poeta Fernando Pessoa, é a consciência (certa ou errada) do nosso mérito para os outros e não para nós mesmos, ou como nos afirma esse que vem se demonstrando um autêntico apóstolo da humildade, o Papa Francisco é “uma doença espiritual grave”, necessário se faz voltarmo-nos para dentro de nós e, num franco e profundo exercício de reforma íntima, fazemo-nos as seguintes reflexões: “De que forma temos procurado preencher o vazio de nossa alma?” e “Até quando estaremos nos entregando ao vício prazeroso da vaidade, saciando a importância da nossa personalidade?”. Ou “Até que ponto temos permitido que esse vazio seja preenchido com as verdades libertadoras e emancipadoras do evangelho deste que continuará sendo o maior terapeuta de todos os tempos, Jesus, o Cristo, o maior modelo de humildade já apresentada à humanidade?”.

Por fim, recorrendo ao que nos diz o Espiritismo sobre esse inimigo aqui destacado e que, vale salientar, ganha muita vazão entre boa parte dos seus promitentes e seguidores, precisamos refletir acerca do que este nos diz ao revelar que, na qualidade de filha do orgulho e prima-irmã do egoísmo, a vaidade assenta na importância da personalidade. Esta personalidade que costumamos exaltar, muitas vezes de forma dissimulada, utilizando-nos de discursos de falsa modéstia ou ações hipócritas. E como nos é posto na questão 917 de o Livro dos Espíritos: “Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a as suas legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo”. Concluindo, portanto, fixemos essa verdade, a de que somente no caminho da humildade trafegam ações e ensinamentos que enaltecem e compreendem as Leis Divinas, e que abominam a vaidade, o orgulho e o egoísmo. Para assim então vivemos uma vida de maneira íntegra, preenchendo o nosso vazio da alma única e exclusivamente com aquilo que definitivamente alimenta o espírito e não a nossa persona.