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Reencarnação na bíblia

21 de Dezembro de 2017 às 08h45

Werlany Maciel (@werlany_maciel

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Foi no Concílio Ecumênico de Constantinopla (553) que a reencarnação foi retirada do cristianismo pelo imperador Justiniano e sua esposa Teodora. Essa história da influência de Justiniano e Teodora no citado concílio, de um modo geral, não é abordada pelos historiadores, certamente, para evitarem conflitos com a Igreja, pois isso é desagradável para ela.
E na verdade, o que foi condenado nesse concílio não foi bem a reencarnação, mas a doutrina da preexistência do espírito, ou seja, a existência do espírito antes da concepção do corpo no útero materno, o que é contra a Bíblia. “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses do ventre da madre, te consagrei e te constituí profeta das nações” (Jeremias 1: 5). Está provada, pois, pela Bíblia, essa doutrina da preexistência do espírito antes da concepção do corpo. Ora, se o espírito existe antes do corpo ser criado, ele já pode ter vivido encarnado em outro corpo aqui na Terra ou em outro mundo. “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14: 2). A casa do Pai é o universo. O próprio homem Jesus deixou também isso bem claro. “Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8: 58).
Geração e nascimento (“genesis” em grego) na Bíblia não são apenas materiais, consanguíneos, mas também do espírito, pois pode ser nova geração, novo nascimento ou nova reencarnação do espírito. Daí a palavra palingenesia (“palingenesias” em grego). “Palim” em grego significa novo. Logo, “palingenesias” em grego quer dizer nova geração ou novo nascimento do espírito em outro corpo. Esse é o significado literal e verdadeiro de “palingenesias” em grego, palingenesia ou reencarnação em português (Tito 3: 5; e Mateus 19: 28). As traduções de “palingenesias” nas duas referências mencionadas por “regeneração” estão, pois, erradas e com o objetivo escandaloso de esconder a reencarnação ou nova geração do espírito.

"[Tito 3:3] Porque também nós éramos outrora
insensatos, desobedientes, extraviados, servindo
a várias paixões e deleites, vivendo em malícia e
inveja odiosos e odiando-nos uns aos outros.

Certos textos foram adulterados, outros suprimidos ou substituídos, alguns ainda bastante fáceis de serem localizados e esclarecidos à luz das próprias Escrituras.

✅Jesus comunica-se com os "mortos"
Mateus 17:1 a 8 nos traz uma sessão de comunicação, materializando-se os espíritos, sendo Jesus encarnado o partícipe principal do evento. O verso 3 é bastante claro:
"[Mateus 17:1] Seis dias depois, tomou Jesus consigo
a Pedro, a Tiago e a João, irmão deste, e os conduziu
à parte a um alto monte;
[Mateus 17:2] e foi transfigurado diante deles; o seu
rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes
tornaram-se brancas como a luz.
[Mateus 17:3] E eis que lhes apareceram Moisés e
Elias, falando com ele.
[Mateus 17:4] Pedro, tomando a palavra, disse a
Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres,
farei aqui três cabanas, uma para ti, outra para
Moisés, e outra para Elias.
[Mateus 17:5] Estando ele ainda a falar, eis que
uma nuvem luminosa os cobriu; e dela saiu uma
voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo; a ele ouvi.
[Mateus 17:6] Os discípulos, ouvindo isso, cairam com o
rosto em terra, e ficaram grandemente atemorizados.
[Mateus 17:7] Chegou-se, pois, Jesus e, tocando-os,
disse: Levantai-vos e não temais.
[Mateus 17:8] E, erguendo eles os olhos, não
viram a ninguém senão a Jesus somente. "

✅João Batista, a reencarnação de Elias

Malaquias 4:5, Antigo Testamento, informa o envio do profeta Elias a terra, como precursor de Jesus: “Eis que vos envio o profeta Elias, antes que venha o terrível e grande dia do Senhor”.

O anúncio da vinda de Elias, informando da missão do profeta, para que o povo pudesse reconhece-lo e saber estar próxima a vinda do filho de Deus. Elias era de fato esperado pelos judeus, desde a promessa em Malaquias, como precursor do Cristo.

Julgaram encontra-lo em João Batista, mas o batizador respondeu que não era ele o Elias que havia de vir, nem mesmo um profeta. Alguns estudiosos espíritas acreditam que João Batista não se lembrava de sua encarnação anterior, outros que ele ainda não tinha consciência de sua missão, e aqueles em defesa que a modéstia fez João responder daquela forma.
[Mateus 17:10] Perguntaram-lhe os discípulos:
Por que dizem então os escribas que é
necessário que Elias venha primeiro?
[Mateus 17:11] Respondeu ele: Na verdade
Elias havia de vir e restaurar todas as coisas;
[Mateus 17:12] digo-vos, porém, que Elias já veio,
e não o reconheceram; mas fizeram-lhe tudo o
que quiseram. Assim também o Filho do homem
há de padecer às mãos deles.
[Mateus 17:13] Então entenderam os discípulos
que lhes falava a respeito de João, o Batista.

Falara de João Batista morto recentemente a mando de Herodes

Porém, os cristãos que condenam a doutrina espírita como antibíblica, apresentam uma série de argumentos com intenções de descaracterizar aqueles textos e, consequentemente, dar significados diferentes às palavras de Jesus. Eis o que dizem: "Não existe na Bíblia a palavra reencarnação, Jesus não a pronunciou." 

Reencarnação é uma palavra moderna, do século XIX, portanto não poderia figurar como tal nas páginas da Bíblia, e Jesus não a disse mesmo em momento algum. O que Jesus pronunciou foi renascimento, ser gerado de novo, exatamente com o mesmo significado de reencarnação, ou seja, nascer novamente.
[João 3:7] Não te maravilhes de te ter dito:
Necessário vos é nascer de novo.

Deve-se atentar que os cristãos não reencarnacionistas não admitem a pré-existência da alma, ou seja, que a alma é criada no exato momento da concepção. Jeremias 1:5, no entanto, diz textualmente ser conhecido antes mesmo do ato da sua fecundação, o que só pode significar pluralidade de vidas. "[Jeremias 1:5] Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta."

Em Mateus 16, 13-14, temos: "Tendo chegado à região de Cesáreia de Felipe, Jesus perguntou aos discípulos: "Quem dizem por aí as pessoas que é o Filho do homem?" Responderam: "Umas dizem que é João Batista; outras, que é Elias; outras, enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas".

Veja bem, se o povo pensava que Jesus poderia ser João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas é porque acreditavam que alguém que já havia morrido pudesse voltar como outra pessoa, razão da resposta. Entretanto, não tinham noção como isso poderia acontecer. Sendo João Batista contemporâneo de Jesus, não haveria a menor possibilidade d’Ele ser João Batista reencarnado. É a única ressalva que poderemos fazer a esse texto.

Encontraremos em Mateus (17, 10-13) a reencarnação de forma bem mais clara, senão vejamos: "Os discípulos lhe perguntaram: "Por que dizem os escribas, que Elias deve vir antes?" Respondeu-lhes: "Elias há de vir para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram.Do mesmo modo, também o filho do homem está para sofrer da parte deles. Então, os discípulos compreenderam que Jesus lhes tinha falado a respeito de João Batista".

- Por que Elias não foi reconhecido? 
- Porque agora animava outro corpo?
- Simples não?

Mas poderiam objetar: Jesus não afirmou que João Batista era Elias. Foram seus discípulos que pensaram assim. Certo! Mas em várias oportunidades Jesus demonstrou conhecer o pensamento das pessoas, por isso, se não disse nada em contrário é porque sancionava o que os discípulos estavam pensando. 

As dúvidas poderão ser dissipadas nesta outra narrativa. Vejamos Mateus 11, 14-15: "E, se quiserdes compreendê-los, João é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, que escute bem". Essa última frase deve ter sido dita por Jesus por que sabia que muitos não iriam aceitar o princípio da reencarnação, mas reafirmamos: quem quiser ouvir que ouça!

É sempre colocada a passagem de Hebreus 9, 27 como contrária à reencarnação, que diz: "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo, assim o Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão, e aparecerá uma segunda vez, não, porém, em razão do pecado, mas para trazer a salvação àqueles que o esperam".

Cf. Isaías, 26: 19:
"Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós os que habitais o pó, porque o teu orvalho será um orvalho luminoso, e a terra dará à luz sombras.
Mesmo caso, não é ressurreição, vejam: a terra dará à luz sombras...
Se é na terra é reencarnação.
Para quem tem a Bíblia como verdade única, podemos citar a epístola aos Hebreus:
“As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.” Hebreus 11:35-36

Por que foram as mulheres que receberam os seus mortos em ressurreição, e não os homens? É lógico que é porque só as mulheres podem gerar em seus ventres os corpos carnais necessários à reencarnação dos espíritos “mortos”. Por que uns foram torturados e escarnecidos? É lógico que se trata dos mecanismos da Lei de causa e efeito, através da qual cada um é responsável pelos seus atos e todos colhem aquilo que plantaram. Fica evidente a preexistência do espírito e a reencarnação.
“(…) eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” Êxodo 20:5

A Vulgata Latina traz o texto assim: “in tertiam et quartam generationem”. Ou seja, a tradução correta é NA terceira e quarta geração, e não ATÉ a terceira e quarta geração. Por que na terceira e quarta geração? Porque é o próprio espírito que cometeu a iniquidade que volta reencarnado no mesmo grupo familiar. Pela Lei de causa e efeito, somos responsáveis pelos nossos atos e ficamos ligados àqueles com quem formamos laços positivos ou negativos. É no próprio grupo familiar que o espírito que cometeu a iniquidade, ou falta, ou erro, ou pecado, tem oportunidade de reajuste e de rearmonização com aqueles a quem prejudicou direta ou indiretamente. Então ele volta, reencarnando, na terceira e quarta geração, ou seja, como seu bisneto ou tataraneto. A Lei de causa e efeito, ou “visita de Deus”, atinge o próprio espírito que cometeu a iniquidade, confirmando o que foi dito por Jeremias e Ezequiel. A “visita de Deus” não poderia ocorrer na primeira ou na segunda geração, pois são espíritos diferentes, não houve tempo hábil para a reencarnação do espírito faltoso. Se Deus “visitasse” a primeira ou a segunda geração, estaria sendo vingativo, e não Justo. É isso que dizem Jeremias e Ezequiel. A Justiça de Deus, através da Lei de causa e efeito, só pode atingir ao próprio espírito que cometeu a falta.

Não encontramos a palavra reencarnação na Bíblia. A palavra deriva do latim “incarnare”, “tornar carne”, e sua utilização na língua portuguesa não era de uso corrente até a popularização do Espiritismo. É bom lembrar que a Bíblia só chegou ao nosso idioma em 1753, quando foi publicada a primeira tradução completa para o português, feita pelo PROTESTANTE  João Ferreira de Almeida.

Mas o conceito de ressurreição, para os judeus, em muitos casos se aplica ao que chamamos hoje de reencarnação. Voltando aos Evangelhos, mais uma vez cito Mateus:

“E, desde os dias de João o Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Mateus 11:12-15

Jesus está dizendo abertamente que João Batista é a reencarnação de Elias, que todos esperavam que voltasse para que as escrituras se cumprissem. Mas é preciso ter ouvidos para ouvir…

A reencarnação contraria interesses egoísticos geradores de preconceitos de toda espécie. Através da reencarnação, o poderoso de hoje pode ser o farrapo humano de amanhã; o rico pode ser o mendigo; o machista pode ser a mulher frágil e delicada; o branco racista pode ser o negro e assim por diante. A salvação, vista sob o ângulo da reencarnação, depende exclusivamente de si mesmo, e não há penas eternas para ninguém. Deus sempre nos concede novas oportunidades para nos reajustarmos por nós mesmos e alcançarmos o seu Reino, que está dentro de cada um de nós:

“E, interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes, e disse: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós.” Lucas 17:20-21

A existência única, com tantas desigualdades e injustiças, não está de acordo com o conceito de Justiça Divina. Hoje, com a popularização das redes sociais, principalmente com o Facebook, recebemos quase todos os dias fotos ou vídeos de crianças com doenças terríveis, às vezes bebês com doenças em toda a pele que provoca dores atrozes. Não seria justo Deus, o Criador do Universo, criar seres para sofrer. Enquanto alguns nascem com saúde perfeita, conforto e amor, outros nascem com doenças horríveis, na miséria e no abandono. Só a preexistência do espírito e a pluralidade das existências é capaz de explicar esses aparentes descalabros.
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