Blogs e Colunas

A chuva

13 de Julho de 2018 às 17h15

Antonio Carlos Tarquínio

ver todas as postagens »

Na noite passada, confesso, tive medo.

Contemplando o céu, viam-se nuvens espessas em tom cinza escuro a cobrir toda a abóboda celeste, e a ausência de luz cercava de mistério as horas vindouras, enquanto meu coração timorato se enchia de apreensão em relação à chuva que as nuvens prenunciavam.

Antigamente, os mais velhos diziam que se tinha vento, não chovia. Atualmente, a chuva vem com o vento e, ao passo que molha, sacode as árvores para valer.

Junte-se a isso a televisão vaticinando, através da previsão do tempo, tempestades a torto e a direito.
Pensei comigo mesmo – a gente nunca sabe a intensidade e o volume de uma chuva assim – e a minha habitual serenidade desapareceu completamente.

Eram mais ou menos dezoito horas, e todos sabem que, no verão, anoitece em torno das vinte horas; no entanto, pressionado pelo pavor, resolvi anoitecer o dia lá pelas dezoito mesmo.

- Nossa já tá de noite né?
- Não senhor. Ainda é cedo. É a chuva que vem vindo.
- Ai, ai, ai, ai, ai, e ela nem para passar um paninho na situação para mim!

Com o avançar das horas, a tarde cinzenta cedeu lugar à noite; e os meus temores, ao sono...

Hoje, me levantei, abri as portas do fundo, pus os cachorros para dentro, completei a água no filtro de barro, passei um café no pano (porque no papel é o mesmo que colocar ketchup em pizza, uma heresia, uma conspurcação da santidade do café) e sai para o quintal.

Enquanto o céu mostrava o seu melhor azul, o sol volvia a brilhar, e os pássaros cantando à nova claridade da manhã falavam ao meu coração:

Aprende a confiar Antonio, aprende a confiar.

E aí, só aí me dei conta de que na noite passada não havia chovido.